Da velhice propriamente dita

sexta-feira, 05 de abril de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Alessandro Lo-Bianco /                    @AlessandroLB

É comum ouvir-se que os prazeres da vida só valem enquanto o homem é forte e capaz de desfrutá-la na plenitude de todas as funções orgânicas.  Mentira grossa; uma porque há prazeres que os moços jamais poderão sentir; outra, porque certos prazeres são como mosaicos, cujas últimas peças só os velhos podem colocar nos lugares certos.
Ter netos, por exemplo, há quem os tenha antes dos 40 anos, mas conversar com eles de homem para homem, via de regra, só se consegue depois dos 60. E isso, inegavelmente, é um prazer e dos bons.
Achar ridículo a vaidade é um exemplo. É claro que, por raciocínio, um homem aos 30 anos pode conseguir, mas o certo é que, geralmente, só depois dos 60 a experiência da vida mostra como é fútil e descabido esse hábito tolo, que tanta preocupação causa a muitos indivíduos em certa  época da vida. É verdade que há velhos de mais de 60 anos que ainda sim cultivam a vaidade, mas, certamente, são exceções.
A sensação de homem realizado é outro prazer que, em geral, só os homens mais velhos  podem sentir. E esse, talvez, seja o maior dos prazeres, embora alguns velhos entendam que só a luta na conquista de melhor posicionamento na sociedade seja, de fato, a razão da vida útil.
Que grande prazer não será, por exemplo, ver-se uma família inteira criada, os filhos encaminhados na vida, todos sadios, úteis, educados, com razoável grau de instrução, ocupando um lugar decente na sociedade em que vivem, constituindo noivos lares, dando-nos, com isso, a prova cabal de que atingimos a meta fundamental e, no entanto, a mais simples, da existência do homem na Terra.
O indivíduo que se integra ao meio em que vive, o faz por defesa, para facilitar a própria sobrevivência. Tornar-se gregário, é um imperativo biológico. Só os marginais fogem a essa regra, por isso, sucumbem ou são segregados. Mas, constituir uma família, conservar sua unidade e preparar seus descendentes para uma integração proveitosa na sociedade, é tarefa que, por  si, torna um homem realizado. Ora, esse prazer, essa razão de viver, a natureza só proporciona aos velhos, de modo que, os frutos mais saborosos da árvore da vida, só os velhos conseguem provar.

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