Espaço de Leitura - Enquanto seu lobo não vem (Passeando na praça enquanto seu lobo não vem)

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sexta-feira, 15 de março de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Francisco Gregório Filho
                                                                       
      “Não há cultura que não tenha construído labirintos...*”      

Adotei livremente um dia da semana para desfrutar do prazer de “andar à toa”. Isso mesmo, passear, sem pressa, por algum canto da cidade. Caminhar despreocupadamente pelas ruas, apreciando os movimentos e as paisagens. Parando aqui e acolá para conversar com as pessoas amigas e os conhecidos. Cumprimentá-los. Claro, estou com essa disponibilidade, com esse tempo e disposição. O corpo e o olhar menos tensos em estado emocional mais aberto para ver e ouvir.
Essa semana passada os escolhidos foram as duas praças do Centro e, em especial, a Praça Getúlio Vargas. Ainda é muito acolhedora e desperta sempre em mim uma sensação boa de que a vida segue em frente mesmo com os obstáculos e os desafios cotidianos. Com todos os barulhos dos motores e as excessivas buzinas dos carros com seus motoristas estressados e com pressa, muita pressa, para alcançar, chegar a algum lugar o mais rápido possível em cumprimento de um dever ou não. 
E o olhar, mesmo ao avistar as fachadas das lojas e dos prédios repletos de propaganda e outras baboseiras a poluir exageradamente o visual – o olhar ganha paz em se erguer para o alto e encontrar os galhos das árvores, e pousados sobre o céu, os pássaros a desenvolverem uma coreografia de animar o coração. 
Na rua que separa as duas praças vejo os táxis como sentinelas a guardá-las. Os taxistas sempre apostos para melhor atender aos chamados dos fregueses e a bater longos papos. Uma turma de homens bem educados e conhecedores profundos da geografia territorial, social e humana da cidade e do município. Os velhinhos caminhando pelas passarelas das praças para lá e para cá, sozinhos ou acompanhados por familiares ou profissionais acompanhantes.
Alguns bancos estão quebrados e os que estão inteiros são disputados também pelas crianças e os adultos cuidadores. Garis e suas vassouras recolhem as folhas caídas dos galhos sob os movimentos suscitados pelo vento – imagens bonitas. Essas praças ocupadas de humanidade e poesia – cartão-postal de uma cidade generosa e acolhedora – necessitam de melhor atenção dos órgãos públicos nos cuidados com a segurança, limpezas e reparos de suas vias e equipamentos. Como exemplos o coreto e a bela fonte d’água. Acredito que as providências estão sendo tomadas e a sociedade inteira cobra, fiscaliza e agradece a sensibilidade e as decisões favoráveis para ações de manutenção por parte da Prefeitura e do Serviço de Patrimônio Artístico e Cultural.
Amigos leitores e fraternos interlocutores compreendam, por favor, a necessidade minha de escrevinhar hoje nesta coluna essa experiência que considero uma das mais prazerosas das que tanto me beneficio nesta cidade: andar, descansar, descontrair, relaxar, movimentar o corpo e o olhar, encontrar as pessoas e conversar – jogar conversa fora – e ganhar mais energia para enfrentar o dia a dia de uma vida que com todas as duras preocupações é abençoada e festejada. 
Pois sim, complemento aqui a experiência na Praça Getúlio Vargas que acontece comigo sempre que ali estou. Sou tomado por grande emoção e meu coração se enche de esperança quando me aproximo do prédio da Oficina Escola de Artes e testemunho o grande movimento de crianças jovens e os adultos educadores em torno da alegria de estudar – vivenciar as linguagens artísticas. Desta vez encontrei na porta da Oficina seu atual diretor: o artista Rodrigo Guadagni – exultante com as perspectivas de trabalho em 2013. Relatou-me das reformas que o prédio vem sofrendo para as melhores condições de desenvolvimento das aulas de balé, dança popular, desenho, música instrumentos de sopro, teatro, oficina da palavra e literatura e ainda artesanato em cerâmica e tecido. Parabéns ao Rodrigo, aos professores e alunos dessa preciosa experiência. Aplausos pelas boas conquistas e o nosso reconhecimento pelo bem que essa instituição promove aos jovens artistas e cidadãos.  
Caros, terminei meu dia em um espaço agradável apresentado a mim pelo amigo Rai (artista plástico). O lugar é uma galeria com exposição de trabalhos de nossos pintores, desenhistas e fotógrafos. É ainda um restaurante onde se produz excelente culinária e se bebe com qualidade. O cantinho simpático ali na Praça que se chama “Bode Expiatório”, iniciativa privada que e é um presente para a cidade. Ali podemos produzir leituras das artes em todos os seus sentidos. Recomendo às pessoas que gosto muito e claro, aos amigos leitores.
Vocês, assíduos leitores, perguntarão e o livro de hoje? Quais os que vocês indicariam? 
Estou lendo um que é de crônicas, escrito por Affonso Romano de Sant’Anna e tem como título “Como andar no labirinto*” da Editora LPM Pocket, publicado em 2012. Dele extraio fragmento de uma crônica que vem mesmo a calhar nessa nossa conversa de hoje:
“Vocês se lembram de Teseu. Ele tinha que entrar no labirinto para enfrentar o Minotauro. Mas o problema era duplo, pois vencido o inimigo era preciso achar o caminho de saída. Ora, labirinto existe é para atrapalhar mesmo a caminhada do herói ou viajante. Ou, segundo outra versão mais otimista, o labirinto é a oportunidade de a pessoa se encontrar consigo mesma, com o seu lado minotauro”. 
          

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