Francisco Gregório Filho
Testemunhamos, em algumas cidades, a grande oferta de oficinas, cursos livres e até cursos de pós-graduação abertos por diversas universidades sobre a produção do livro.
Tempos atrás fui visitar a casa de um escritor que mais parecia um atelier de criação literária, ilustração e montagem de livros. Explico-me melhor: é que esse escritor, reunido a um grupo de moças e rapazes resolveu abrir um salão de sua casa para promover oficinas em que os interessados são estimulados a contar suas experiências, escrevê-las, ilustrá-las e ainda produzirem um livro com essas criações. Livros amados.
Os textos criados eram revisados e diagramados por seus próprios criadores e harmonizados com as imagens escolhidas no sentido de ampliar a dimensão daquelas narrativas para uma melhor comunicação com os futuros e experimentais leitores—voluntários e amigos das pessoas da oficina.
Uns preferiam unir as páginas em formatos de, costurando-as ou colando-as. A escolha era livre e cada um recebia as colaborações dos colegas de turma. As observações eram debatidas com muito respeito e podiam ser aceitas ou não pelo criador da obra, durante todo o processo de confecção e finalização. Na época até considerei a ideia de também participar de uma daquelas oficinas.
Hoje cada vez mais percebo as pessoas animadas em se integrarem a esses grupos de produtores de livros artesanais. Tenho ainda recebido notícias de outras cidades no Brasil e no exterior em que até as instituições públicas incentivam com prêmios e bolsas de manutenção e aprimoramento os jovens que se envolvem nessas iniciativas de produção criativa de livros e clubes de leituras.
Uma boa notícia do exterior dá conta de que em Madri, Espanha, uma experiência dessas vem ocorrendo com bastante sucesso na Casa del Lector que inclusive acolhe crianças na primeira infância—além do público de todas as idades. Uma curiosidade é que na naquela Casa, apelidada de “biblioteca sem livros”, o acervo é apenas digital. Os interessados e participantes das experiências em Madri desenvolvem suas criações e leituras em tablets e notebooks. César Antonio Molina, diretor do espaço, afirma: “ajudamos a formar o leitor, a manter sua formação e ampliá-la. Assim ajudamos a criar mais leitores de obras literárias e mais espectadores de arte.”
Um dos oficineiros e animadores da Casa del Lector, o escritor argentino Pablo Nacach, reflete com grande propriedade sobre os clubes de leitura: “Ler é um ato íntimo, em que o leitor se distrai, se diverte e se aprofunda na vida, mas falar de literatura é tão importante como ler para si mesmo. Por isso considero que ler também é um ato coletivo”. (In: Priscila Guilayn – Espaço de celebração da leitura. Caderno Prosa e Verso p. 4. - O Globo de 2/02/2013. prosa@globo.com.br)
Também outra novidade boa nos chega da Inglaterra e mais precisamente do Centro de Artes do Livro de Londres, cujo diretor Simon Goode—de 33 anos—nos convida para as oficinas de técnicas para produzir livros de modo artesanal. Esse inglês, numa visão mais arrojada, organiza um centro de artes onde escritores, artistas plásticos e curiosos poderão produzir seus próprios exemplares em papel. “É a partir da experimentação dessas técnicas primárias que podemos pensar em novos formatos e, inclusive, no futuro do livro como uma plataforma que serve da arte e à linguagem.” (In: A casa dos livros-objeto. Caderno Prosa e Verso p. 8. O Globo de 2/10/2013. mariana.moreira@globo.com.br.)
Aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, há alguns dias atrás, também uma boa notícia nessa linha das produções literárias mais pessoais. Escritor, contador de histórias, um artista criativo em muitas linguagens, o carioca Augusto Pessoa escreveu e ilustrou um livro em homenagem a outro escritor, o querido Bartolomeu Campos de Queirós, tendo como título “Histórias do Bartô”, publicado lindamente pela Editora Escrita Fina, que já na orelha do livro afirma: “O grande escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, o Bartô, sempre foi conhecido por seus textos extremamente viscerais e infinitamente poéticos. Neste livro, Augusto Pessoa apresenta o Bartô do dia a dia: divertido, brincalhão, irônico e sempre contundente. Ao Bartô, gratidão eterna pela sua literatura provocante, a literatura indez.” Augusto produziu, com delicadeza, um livro de amigo para amigo. Um livro de amizades.
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