Espaço de Leitura - Escrever a cada verão

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sexta-feira, 08 de fevereiro de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Francisco Gregório Filho

Alguns amigos psicanalistas têm me revelado que o espaço de trabalho está aquecido, que os consultórios e as clínicas estão com os horários, na maioria das vezes, preenchidos e que a procura nos últimos dois anos aumentou aproximadamente 40% em comparação ao ano de 2010 em diferentes cidades da Região Serrana. O que mais me impressionou acerca dos dados que me foram passados em conversas informais é o crescimento de escritores entre os analisandos e, também, o índice de psicanalistas escritores. 
São conhecidos de há muito os incentivos que os profissionais da área e até os mais diversos terapeutas desenvolvem para que os seus “pacientes” escrevam, contem histórias, as suas vividas e ou imaginadas. Como leigo, entendo que essas ações são importantes e positivas. Na minha compreensão são algumas das boas maneiras para que cada um procure tomar posse de sua trajetória e da narrativa que constrói a cada dia ou a cada verão.
Prezados amigos e amigas, vocês que me leem nesta coluna, peço consentimento para prosear um pouco aqui com vocês, sem querer está palpitando em assunto no qual me falta conhecimento, sim? 
E abrindo parênteses, lembro de ter lido um texto escrito por Freud que lá pelas tantas diz: 
“A mim causa singular impressão comprovar que minhas histórias clínicas carecem, por assim dizer, do severo selo da ciência, e que apresentam mais um caráter literário. Mas consolo-me pensando que este resultado depende inteiramente da natureza do objeto, e não de minhas preferências pessoais. 
O diagnóstico local e as reações elétricas não têm eficácia alguma na histeria, ao passo que uma exposição detalhada dos processos psíquicos, tal como estamos habituados a encontrar na Literatura, me permite atingir, por meio de um número limitado de fórmulas psicológicas, um certo conhecimento de origem de uma histeria” (Sigmund Freud, Estudos sobre a histeria).     
Passando a vista nos livros expostos na loja da Funarte, no Rio de Janeiro, localizei um livro que chamou minha curiosidade. Claro, adquiri o livro e estou me deliciando com sua leitura. É um romance que tem como título “Documentário*”.
Leio aos poucos, devagar, para não terminá-lo já. Tenho esse hábito, que à medida que vou gostando de ler um livro, vou diminuindo o ritmo da leitura. Talvez assim, permaneça um tempo maior no universo daquela história, daquele texto. Um direito de cada leitor de conduzir sua prática de leitura.
“Documentário é uma espécie de mosaico de discursos literários, tendo a psicanálise como fio que alinhava histórias, dramas e conflitos de um personagem que é um autor e que segue questionando, ao longo do livro, sua existência e suas escolhas.” Essa é uma advertência aos leitores que consta na primeira orelha do livro e que ainda nos informa que Documentário, de Tiago Novaes, foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária, em sua quarta edição.
Tiago, autor do livro, é escritor, roteirista, tradutor e psicanalista e coordena, desde 2009, a oficina de prosa do projeto “Tantas Letras”.
Logo, no texto de introdução da história o autor nos escreve: 
“Tão habituados estamos a uma exposição simplificada dos conflitos do homem que nos esquecemos da delicadeza e da peremptoriedade com que nosso pensamento irrompe na consciência, com que se entrelaça a outros, às lembranças, matizadas por toda sorte de afetos impronunciáveis. Se as palavras são diques seguros e insuficientes de afetos, é certo que apenas na sua composição os moinhos do tempo e da história voluteiam”. 
Leitores fraternos, para minha surpresa descubro ainda que, acompanhando o livro, temos um DVD com um aviso: este DVD é parte integrante do livro Documentário. O DVD nos apresenta um filme, um documentário, dirigido pelo próprio Tiago, sobre a família Novaes. Belo filme que revela as virtudes e as mazelas dos membros dessa numerosa família do interior de São Paulo. O filme leva o título de “Herança”. Muito bem realizado, assim considero.
Manifesto aqui, publicamente, diante de meus poucos leitores, minha profunda admiração pelos profissionais da psicanálise e de tantas outras modalidades terapêuticas, que exercem funções tão importantes e necessárias de saúde pública em nossa sociedade contemporânea. Sigo a escrever também minhas experiências de pensar, sentir e participar. Renovo aqui meus votos de um feliz ano de 2013 e um alegre carnaval de muita paz. Agradecido. Vamos escrever? Escrever, a cada verão?
* Documentário, de Tiago Novaes - Rio de Janeiro: Funarte, 2012. 
Edições Funarte: livraria@funarte.gov.br – funarte.gov.br

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