Francisco Gregório Filho
Em outubro passado desenvolvi no Centro Cultural Paço Imperial uma oficina de Práticas Leitoras, memória e contação de história. Foram quatro sábados no horário das 14 às 18 horas. Apenas 16 horas de carga horária de curso.
Inscreveram-se e participaram cento e três pessoas vindas das mais diversas atividades e lugares do estado do Rio de Janeiro. A articulação e promoção da oficina foram do Setor Educativo do Paço Imperial, coordenado no momento por Lúcia Helena. Para quem não conhece ainda o Paço é uma edificação de 1747 e fica situado na Praça 15 de Novembro, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Os encontros foram ricos, com trocas saudáveis de conhecimentos e muita aprendizagem. Depoimentos com narrativas repletas de humanidade e de exemplos da luta de todos pela sobrevivência e um lugar ao sol como cidadão e trabalhador. Cada um trazendo o que conhecia e com disponibilidade para intercambiar com o conhecimento do outro.
Um grupo de pessoas extremamente sensíveis e abertas para o outro—o diferente—, o que proporcionou grandes momentos nas dinâmicas de grupo e nas revelações dos acervos e dos repertórios dos que ali estavam. Contamos as histórias de nossos nomes e as maneiras de como foram escolhidos. Uma festa e tanta para as nossas memórias e trajetórias de vidas.
Listamos juntos uma bibliografia sobre a produção de leitura, a memória, a oralidade e a palavra escrita. Cantamos e entoamos canções de diferentes contextos e épocas que de alguma forma se inscreveram em nossas vidas—indivíduos e grupos. Trocamos livros, histórias e afetos.
Um dos livros que me foi presenteado por um dos participantes foi “Coincidências”, editado pelo Massao Ohno Editor e escrito por Silvana Salles, uma carioca poeta que se apresentou ao grupo lendo seus trabalhos e que também nos disse: a máquina funciona, faz verdadeiros triunfos, mas nós existimos. Existindo, descobri a poesia.
E é ela quem nos dá conta do inicio de sua trajetória:
“Um dia, assistindo ‘Jô 11:30’ me chamou atenção uma entrevista com um publicitário conhecido, falando sobre o seu livro de poesias [‘O Gesto’, Mauro Salles]”. Gostei da sua história, do título e de um poema que recitou.
No dia seguinte, fui a livraria, comprei o livro. Li-o no mesmo dia. Fascinante!
Na última página, ele descrevia a genealogia da sua família. A primeira linha:
“De pai sou Salles, há muito tempo em versão de dois éles, que é mais forte.”
Pensei: Eu também posso falar esta frase, pois Salles também sou.
Decidi que iria contar isto para ele, que gostei da sua entrevista, do seu livro, que também fazia poesias e que podia falar a primeira frase da sua genealogia.
Depois de muitas tentativas consegui falar com ele. Gostou de minha história, das minhas poesias.
Apresentou-me ao Massao Ohno. E tudo aconteceu!
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