Notícias da Floresta - Theodoro Peckolt e as plantas medicinais

Por Valdir Veiga - valdir.veiga@gmail.com
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
por Jornal A Voz da Serra

“Em tempos de celebridades instantâneas que desaparecem em duas semanas, se precisamos de referências para reconstruir nossa cidade, que sejam aqueles que nos honraram com décadas de dedicação aos ideais mais nobres: conhecer a nossa terra e curar a nossa gente”

A História do Brasil tem um marco importante em 1808, quando D. João por aqui se instalou, fugindo de Napoleão. Faculdades de medicina, jardins botânicos e diversas instituições foram criadas para conhecer e trazer mais desenvolvimento ao local em que habitava a corte.   Diversos europeus foram convidados a visitar nossas terras e aqui estiveram eminentes naturalistas, como o francês Auguste Saint-Hilaire e o barão russo Georg von Langsdorff. Entre os mais famosos está Carl Friedrich von Martius, que convidou um jovem e brilhante farmacêutico alemão a vir conhecer o Rio de Janeiro: Theodoro Peckolt, um dos poucos destes europeus que permaneceu no Brasil após as viagens exploratórias.
Em pouco tempo Peckolt mudou-se para Cantagalo, para onde foi a convite dos médicos e fazendeiros alemães e suíços instalados na região. Lá comprou a farmácia onde fazia seus estudos químicos e as formulações com as plantas da Mata Atlântica e também da Amazônia, como o guaraná, que conhecera pelo contato com von Martius. Apesar de estar sempre em Nova Friburgo, preferia Cantagalo por ser mais próxima dos rios Paraíba, Pomba e Doce, de onde partia regularmente para os estudos da flora. Logo conheceu e casou-se com Henriqueta Sauerbrönn, filha do vigário protestante Friedrich Sauerbrönn, que havia encabeçado a instalação da colônia suíça de Nova Friburgo, recebida pelo inspetor local, o Monsenhor Miranda. No tempo em que ali permaneceu, entre 1852 e 1867, percorreu de Nova Friburgo até Diamantina e o Espírito Santo, em diversas expedições.
Suas pesquisas sobre os constituintes das plantas medicinais da região permitiram a descrição da composição química de mais de duas mil delas, e a ser considerado o pai da fitoquímica no Brasil. Entre as plantas da região que foram estudadas estão pau-pereira, gameleira, sapucainha, urucum, agoniada, caroba e a salsaparrilha.
Publicou mais de 430 artigos científicos, muitos deles em prestigiados periódicos alemães. Ainda hoje, tamanha produção científica é dificilmente alcançada por pesquisadores nacionais. Peckolt passou 65  dos seus 90 anos de vida no Brasil. Em meados de 1867, transferiu sua farmácia para a rua da Quitanda, no Rio de Janeiro. Depois de algum tempo recebeu o título de farmacêutico da Casa Imperial e foi convidado a reorganizar o acervo do Laboratório Químico do Museu Nacional. Títulos e reconhecimento nacional e internacional não lhe faltaram, como Oficial da Ordem da Rosa, do Governo do Brasil; e a Estrela Polar, do Rei da Suécia.
Theodoro trabalhou quase todo o tempo sozinho, sendo acompanhado somente por seu filho, Gustavo Peckolt, que foi também um reconhecido farmacêutico, com diversas publicações científicas. Posteriormente, seu neto, Oswaldo Lazarini Peckolt, seguiu os mesmo passos e trabalhou na revisão da primeira edição da Farmacopéia Brasileira, de Rodolfo Albino (também nascido em Cantagalo), um marco no estudo das plantas medicinais nacionais. Ao todo, os Peckolt estudaram mais de 3.500 plantas, uma contribuição inigualável ao conhecimento de nossa biodiversidade.
Nova Friburgo hoje conta com diversas universidades e faculdades, inclusive de biologia e farmácia. Em 2012, quando deveríamos estar celebrando as datas de 190 anos do nascimento, 100 anos do falecimento e, principalmente, o imenso legado e acervo de conhecimento botânico, farmacêutico e químico da Mata Atlântica de um dos maiores pesquisadores que adotou o Brasil como seu país, Theodoro Peckolt permanece um desconhecido local.
Em tempos de celebridades instantâneas que desaparecem em duas semanas, se precisamos de heróis que estimulem nosso sentimento de pátria, de referências para reconstruir nossa cidade, que sejam aqueles que nos honraram com décadas de dedicação aos ideais mais nobres: conhecer a nossa terra e curar a nossa gente.

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