Por Alessandro Lo-Bianco / @Alessandrolb
A pesquisa “Indígenas no Brasil: Demandas dos povos e percepções da opinião pública” mostra um retrato idealizado dos povos indígenas por parte da maioria dos/as brasileiros/as: baixo conhecimento sobre a realidade dos povos indígenas, sobre seus principais problemas e conflitos, sobre seus direitos e ameaças às terras indígenas. Traz ainda as percepções dos índios que vivem nas cidades em relação a temas como intolerância, preconceito e discriminação. A Fundação Perseu Abramo, em parceria com a fundação alemã Rosa Luxemburg Stiftung, realizou em 2010 e 2011 uma pesquisa sobre indígenas no Brasil, em três módulos: ouviu 52 lideranças indígenas, aferiu a opinião pública nacional, com 2006 entrevistas distribuídas em todo o país, e ainda 400 índios não aldeados, ou em aldeias em periferias urbanas. O primeiro módulo, qualitativo, será publicado em livro, o segundo e o terceiro já foram divulgados no relançamento da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas em novembro do ano passado e no Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre em janeiro deste ano.
A percepção de brasileiros e brasileiras sobre os indígenas no Brasil
Desconhecimento – Cerca de 9 em cada 10 entrevistados na amostra nacional (88%) não souberam responder quantos povos indígenas existem hoje no Brasil (mais de 250 povos). 61% admitiram não saber. Entre os que arriscaram uma resposta, para 13% seriam menos de 10 povos e para 13% de 10 a 50 povos, sendo que 1% acredita que não há mais indígenas aldeados no Brasil. Só 12% afirmaram que há mais de 50 povos.
Preconceito – 80% concordam que há preconceito contra os indígenas no Brasil—para 44% há muito—mas apenas 4% declararam ter preconceito e 3% afirmaram ter aversão (ódio/repulsa ou antipatia) por indígenas. No entanto, 21% concordam em algum grau com o estereótipo de que“a maioria dos índios é pobre porque não gosta de trabalhar”; 28% concordam com a afirmação que“os índios são selvagens, querem resolver tudo à força”, 21% acreditam que os brancos são mais inteligentes que os índios e 3% concordam com a frase que“índio bom é índio morto”.
Os donos da terra e as ameaças aos territórios indígenas - 66% concordam que os índios, por já estarem aqui antes da chegada dos portugueses, são os verdadeiros donos das terras no Brasil. Ao mesmo tempo em que 55% concordam em algum grau que“no Brasil tem muita terra para pouco índio”, para 54% as terras em que os índios vivem hoje são insuficientes para que se desenvolvam de forma adequada.
Índios não aldeados e urbanos – Índios não aldeados, que vivem nas cidades ou em aldeias na periferia de cinco metrópoles (São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Manaus e Campo Grande) – Razões de saída da aldeia: 68% por problemas econômicos; 31% interações sociais diversas, como uniões ou desuniões familiares; 27% em busca de educação; 13% por mais acesso a saúde; 13% por conflitos ou questões relativas ao uso da terra. As melhores coisas que a cidade oferece: trabalho (44%), educação (32%), saúde (26%) e conforto (17%). As melhores coisas da aldeia: qualidade de vida, incluindo fartura de alimentos, paz e vida saudável (45%), contato com a natureza (27%), interação social – convivência, família, respeito pelo outro (23%); relações econômicas – não precisar comprar e pagar contas (21%); costumes indígenas (21%) e liberdade (19%).
Preconceitos e vivências de discriminação devido à raça/ etnia - 83% dos indígenas dizem que existe preconceito dos brancos contra os indígenas; 13% admitem que têm preconceito contra os brancos. 45% já se sentiram discriminados devido à sua raça, cor ou etnia. Tipos de discriminação: aversão ou ridicularização (17%), recusa aos atendimentos em hospitais, órgãos públicos, comércio (11%), recusa ao contato social (9%); devido à cultura (7%) e recusa ao contato físico (4%). Principais agentes de discriminação: brancos ou crianças brancas (22%) e colegas em sala de aula (16%); Aproximadamente 2 em cada 10 indígenas que moram nas cidades já se envolveram em alguma situação com a polícia (18%) e 4% avaliam ter recebido tratamento discriminatório por serem indígenas.
Situação dos indígenas no Brasil atual
61% consideram diferente ser indígena ou não indígena no Brasil hoje. As diferenças que sobressaem são negativas (67%), sendo o preconceito a maior delas (42%), e 21% apontam diferenças positivas. 59% dos indígenas residentes em cidades consideram que a situação dos indígenas está melhor hoje do que há 20 ou 30 anos atrás. O que melhorou: acesso à educação (44%), seja pela possibilidade de ingresso em escolas públicas da região (23%) ou em escolas dentro das aldeias (13%); o apoio que recebem do governo (38%).
Fonte:
A pesquisa completa – cruzamentos e gráficos – estará disponível no portal da FPA (www.fpabramo.org.br). Realizada pelo NOP (Núcleo de Opinião Pública da FPA), com consulta a organizações indígenas, antropólogos e gestores de políticas públicas indigenistas.
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