O mundo é um saco de laranjas podres

sexta-feira, 10 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Daniel Siqueira / (daniel@altabooks.com.br)

Com poucas ainda boas.

Poucas com muito suco.

Poucas com suco doce.

Poucas laranjas laranja.

Muitas azedas, amargas.

Muitas com a casca ferida e interior seco.

Não sei quem foi a primeira, ou quem foram as primeiras.

Mas sei que bastou uma apodrecer.

Sábio ditado popular, diga-se de passagem.

Cansei das laranjas.

É isso: sou uma laranja (a)podre(cendo) cansada das outras laranjas.

Ando num estado que até as mais belas e maduras me desagradam.

Tenho achado todas sem gosto.

Mas acho que a culpa é do pomar.

Por algum motivo, fui largado em pomares sem sol, com terras inférteis, árvores sem folhagem.

Péssimos laranjais estes pelos quais passeio.

Laranjas de péssima qualidade estas com as quais me misturo.

Suco de péssimo gosto este que tenho dado—ainda que ande me espremendo muito pra aguçar minha doçura.

Mais uma vez, penso naquele tal ditado: “basta uma laranja podre...”.

De fato, faz sentido.

Sentido sim, suco não.

Diferença também não.

Até porque sou apenas mais uma laranja.

Uma laranja presa numa grande árvore com tantas outras.

Tantas outras que parecem a mesma.

E esta laranja que vos fala está cansada.

Quer pular etapas.

Quer murchar.

Quer logo cair do pé.

Quer cair no chão de uma ladeira íngreme.

E torce pra rolar o mais rápido possível.

O mais rápido possível pra longe desse pomar.

Quer ver coisas novas.

Tudo novo.

Quer ir pruma plantação de peras.

Ou morangos. Ou mangas.

Porque as laranjas já não prestam.

Porque o mundo das laranjas está secando.

Está sem vida.

Está...

Ou não.

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