“As Olimpíadas são uma festa da família humana. E as migrações humanas
moldaram o meio ambiente de todo o planeta”
As festas de fim de ano sempre foram o momento de reunir a família distante—tios, primos, sobrinhos—em brincadeiras, em torno da mesa, de juntar os que têm a mesma raiz, mas hoje são tão diferentes. Cores, sotaques, formas de viver tão diversos entre parentes tão próximos, separados por somente algumas centenas de quilômetros.
Nascidos na mãe África, nós, humanos, migramos para a Europa e para a Ásia. Os asiáticos continuaram a migração e acabaram na América do Norte e depois aqui. Séculos depois, uma leva dos parentes distantes, europeus, apareceu por aqui também. Aos portugueses e espanhóis se seguiram os italianos, alemães e também os suíços. Os irmãos da Ásia também vieram novamente, assim como os africanos, parentes mais distantes, e todos encontram-se reunidos nessa terra abençoada, afortunada, mas ainda um pouco confusa, em que vivemos.
As Olimpíadas são uma festa desta família humana. De tantos caminhos, costumes que foram sendo modificados pelo tempo e pela necessidade de sobreviver. Parentes distantes encontram-se para disputar em jogos com tantas características diferentes que permitem a todos se destacarem. Os melhores de cada país reúnem-se para resgatar o lúdico das brincadeiras de crianças nas únicas disputas de “vida e morte” que deveriam existir entre povos irmãos.
As migrações humanas moldaram o meio ambiente de todo o planeta. Os indígenas descobriram as árvores que forneciam os melhores frutos e acabaram por ajudar a selecionar estas espécies ao descartarem as sementes ao redor das aldeias. Com a descoberta das técnicas de cultivo, seleções e melhoramentos foram feitos nas espécies americanas, com a batata, o milho e a mandioca. Os portugueses trouxeram inúmeras espécies de outras partes do globo, especialmente da Ásia e da África. A soja, a banana, a cana-de-açúcar e mesmo os coqueiros não existiam anteriormente aqui.
Nossas cidades de hoje foram construídas com árvores de todo o mundo, com o que os antepassados viram e trouxeram de melhor e mais bonito. Flamboyants, ipês, eucaliptos, espécies exóticas que representam os melhores de cada família botânica, os mais belos exemplares, os mais bem adaptados de toda uma comunidade que nos cerca. Caminhar à sombra de uma Mangifera indica é tão comum nas nossas ruas que esquecemos o que a nomenclatura botânica já indica: que a mangueira na verdade vem do sul da Ásia, das proximidades do Oceano Índico.
Estar diariamente no encontro das famílias desta magnífica comunidade botânica é um verdadeiro presente que muitas vezes é ignorado. Viver entre árvores não trás somente beleza, mas conforto térmico e acústico, pássaros, borboletas, um ar mais puro e um solo menos suscetível ao assoreamento e deslizamento. Preservar e manter nossas florestas urbanas, como os belíssimos e centenários eucaliptos de nossas praças, é um cuidado não só com o nosso meio ambiente, mas com o das próximas gerações.
Deixe o seu comentário