Francisco Gregório Filho
Acreditem, ainda hoje, muitos jovens se utilizam da escrita para produzir declarações de amor, ou de intenções de namoro, ou ainda para “ficar”.
Torpedos, SMS, e-mail, blogs, bilhetes e surpreendentemente as cartas. Creiam que inclusive alguns permitiram que eu lesse tais declarações. Poéticas, ricas em repertórios e vocabulários e ainda experimentam maneiras diversas de gênero literário. É isso tudo acontece ainda nos dias de hoje, em pleno século XXI.
Peço licença para mostrar aqui, não uma dessas recentes declarações, já que isso não me permitiram os românticos autores, talvez por vergonha ou timidez. Essa carta, que compartilho aqui e que publiquei em meu livro Grávidas Histórias, foi escrita por um rapaz, um médico, apaixonado por uma moça da cidade, no início do século XX. Não sei explicar, mas gosto de ler e reler essa carta.
Minha senhora,
há seis anos uma repentina mudança operou-se em minha alma, já não era mais a criança alegre de outro tempo em cujo peito o amor filial se expandia em ondas de perfume.
Sentia em mim outro amor mais confortável, outro amor que as mães dar aos filhos, foi a senhora quem mo inspirou, quem mo fez desabrochar no coração, como a magnólia desabrocha aos doces raios da manhã.
Desde então, tornou-se a senhora o objeto único de meus pensamentos, a imagem dourada de meus sonhos juvenis, o astro radiante que brilha nos horizontes de minha vida, o ponto luminoso para onde convergem todas as minhas aspirações de moço, a flor de minha vida, a vida de minha alma, a alma de meu ser.
Há seis anos tenho conservado no meu coração a imagem da senhora com o acrisolado desvelo de uma vestal que teme apagar-se o fogo sagrado do altar, poderia agora ocultar por mais tempo o amor que lhe consagro?
Não! Seria pedir o impossível ao coração humano; seria pedir à flor que não derramasse perfumes; seria pedir à lua que não se retratasse nas águas argentadas do lago; seria pedir à fonte que não murmurasse suas queixas cheias de melancólica poesia, seria, finalmente, pedir à brisa que não brincasse com os ramos das acácias, nem levasse em seu voluptuoso sopro as pétalas caídas da flor que murchou à tarde.
É tal o amor que sinto pela senhora, que já tive a audaciosa ideia de pedir a sua mão, mas um momento de reflexão me aconselhou lhe consultasse primeiro, que lhe oferecesse o meu amor e o meu coração. É o que faço por meio destas linhas.
Agora considere a senhora que o meu futuro e toda a minha felicidade estão pendentes de seus lábios.
Uma só palavra sua me poderá fazer o homem mais feliz do mundo ou o desgraçado que só na morte poderá encontrar o alívio de seus sofrimentos.
Mamede M da Rocha - médico
Em nossas livrarias, daqui de Nova Friburgo, é possível encontrar livros bem interessantes com cartas de amor ou ainda com outros tipos de correspondências. Vale procurar pelas estantes e se deliciar com as diferentes maneiras de se escrever para o outro declarações de afeto. Quero aqui indicar o livro de Bartolomeu Campos Queiróz, chamado “Correspondência”, editado em 1987 pela Editora Miguilim, e que tem belos desenhos de Ângela Lago.
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