A primeira providência prática de minha filha assim que chegou a Vancouver foi comprar uma bicicleta. A simpática cidade canadense onde ela está estudando é servida por um sistema de transporte urbano completo, com ônibus (elétricos em algumas linhas), metrô, barcas, trens e, é claro, uma boa rede de ciclovias e ciclofaixas. Nem preciso enfatizar que tudo é muito pontual e eficiente. Que inveja!
Mas fiquemos no Brasil. No Rio de Janeiro, a implantação do serviço de aluguel de bicicletas, a exemplo do que ocorre em Paris, Lyon, Barcelona e Londres, é um enorme sucesso. A propósito, a capital carioca faz bonito nesse quesito: são 235 quilômetros de ciclovias, a maior do Brasil e a segunda da América Latina, atrás apenas de Bogotá, na Colômbia.
São Paulo resolveu se mexer e brevemente terá mais ou menos 3000 bicicletas para alugar em cerca de 300 pontos, localizados em estações de metrô, terminais de ônibus e trens. Além disso, planeja construir uma enorme rede de ciclovias, tal como Curitiba, Belo Horizonte, Joinville, Brasília, Jundiaí e tantas outras.
Não podemos nos esquecer de que o Brasil é o terceiro maior fabricante de bicicletas, perdendo apenas para a China e a Índia, cuja população é cinco vezes maior do que a nossa. Apesar de não parecer, somos o quinto país do mundo que mais usa esse tipo de veículo, seja para o lazer ou trabalho.
Gosto de pensar que estamos assistindo ao início de uma revolução. Ou ter o direito de circular livremente em vias exclusivas e sinalizadas, sem se preocupar com congestionamentos e poluição, não é uma revolução? As modernas cidades, como Copenhague e Amsterdam, sinalizam que o futuro tem duas rodas e não precisa de motor a explosão e combustível fóssil.
E Nova Friburgo, como fica?
Bom, nosso sistema de transporte urbano é deficiente e mal planejado, a tarifa é uma das mais caras do Brasil e ainda dependemos de uma estação rodoviária para integrar duas linhas, isso em plena era da bilhetagem eletrônica! Triste quadro para uma cidade onde as magrelas de duas rodas já foram o seu principal meio de locomoção.
Sem dúvida, o uso intensivo da bicicleta seria uma opção bem interessante e barata para nossa cidade. Uma rede de ciclovias e ciclofaixas, incluindo aí sinalização e bicicletários, tem um custo infinitamente menor do que a construção de viadutos, mergulhões e túneis, que apenas aliviam momentaneamente o tráfego, estimulam o uso do veículo individual e logo estarão saturados.
O clima de Nova Friburgo, ameno e quase sem chuvas durante grande parte do ano, é bem melhor que o da capital carioca, permitindo pedalar boas distâncias com facilidade. Além disso, como a cidade cresceu ao longo dos rios, é possível ir de Conselheiro ao Bairro Ypu ou a Olaria de uma puxada só e, se o cidadão se entusiasmar, pode pedalar até Theodoro!
Tudo muito bonito, mas para funcionar bem, teriam que ser ciclovias de verdade, seguindo o padrão do DNIT: duas pistas com um mínimo de 1,2 metros de largura cada, separadas do trânsito e dos pedestres, placas indicativas e piso apropriado. A possibilidade de adaptar os ônibus para levar uma ou duas bikes deve ser considerada.
A solução para o trânsito caótico de nossa cidade tem que passar pelas bicicletas, a tão aguardada Estrada do Contorno e até mesmo o VLT, por que não? No entanto, o principal passo é admitirmos que há veículos demais circulando em uma cidade com ruas estreitas, praticamente sem opções para intervenções pontuais. A saída é investir e modernizar o transporte público, incentivando o seu uso e, com imaginação, criando novas opções.
Por exemplo, vocês sabiam que o governo do estado criou um programa chamado “Rio Estado da Bicicleta” que desenvolve projetos de estrutura cicloviária para os municípios interessados? Pois é, e o Ministério da Educação mantém o seu “Caminho da Escola”, financiando bicicletas para alunos de escolas municipais. Decididamente, ideias e projetos é que não faltam.
Eu sei que tudo isso demanda tempo e dinheiro. Sonhos nunca saem de graça e a reconstrução de uma realmente Nova Friburgo não será uma tarefa fácil. Mas com determinação e a colaboração de todos, podemos muito bem transformar nossa cidade em um lugar digno para morar.
Mais do que nunca, precisamos ser ousados!
Carlos Emerson Junior
carlosemersonjr@gmail.com
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