Os focas - 22 a 24 de outubro 2011

Por Amine Silvares, Priscilla Franco e Leonardo Lima
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Ah, a mulherada domina!

Enquanto o Léo Lima está de férias, temos uma nova foca aqui! Sim, uma coluna dominada pelas mulheres! Rá! Bem-vinda, Juliana Scarini. Enquanto isso, o Léo foi pra praia e não tá com vontade de voltar. Ponto para as mulheres!

Meu problema com a Pequena Sereia

Amine Silvares

Eu nunca entendi a minha antipatia pela Pequena Sereia. Não sei o que era, simplesmente não gostava dela. Quando criança, vi o desenho inúmeras vezes, já que tinha a fita. Não gostava da Ariel. Achava que o desenho era bonito, a história interessante, mas a ruivinha não me cativava. Junto a ela, Cinderella, Branca de Neve e Aurora, a Bela Adormecida,também tinham a minha antipatia. Durante uma boa parte da minha infância, eu não entendia a paixão das pessoas pela Disney; justamente porque os desenhos que todos me falavam que eram incríveis, não me desciam.

Até que surgiu a Bela, de “A Bela e a Fera”. A Bela mudou tudo. Acho que ela—junto com a Pocahontas, a Jasmine, do Aladin, e até mesmo a Mulan—trouxe uma nova ideia que eu desconhecia, mas que nasceu comigo. A Bela, ao contrário da Aurora e da Branca de Neve, não passa mais da metade do desenho dormindo. Ao contrário da Cinderella, ela não depende de uma fada madrinha e casamento com um príncipe pra fugir da vida de escrava. A Bela lia, tinha opinião, vontade própria e não caia na lábia do “galã” pegador. E o melhor de tudo, pelo menos pra mim, é que ela salva o príncipe no fim do filme.

Mas o meu problema com a Ariel era pior. Eu realmente não gostava de “A Pequena Sereia”. Nunca entendi o porquê. Foi há alguns anos atrás que, lendo sobre padrões de beleza sendo impostos à crianças cada vez mais jovens, uma escritora americana mencionou o desenho como um péssimo exemplo e eu finalmente entendi a minha birra com a personagem. Enquanto alguns argumentam que ela é um exemplo de feminista por desafiar seu pai e a sociedade onde vive, a escritora (que não lembro o nome) apontou uma questão um pouco mais profunda: ela desafia seu pai para viver um grande amor, mas em troca desse amor, ela perde sua liberdade de expressão, sua voz, e adota um padrão de beleza irreal e inatingível (ela é uma sereia e só consegue conquistar o príncipe trocando sua cauda por um par de pernas. Oi?!).

Era isso! Foi como se eu soubesse o tempo todo, mas não conseguia explicar exatamente o que era. Me incomodava muitíssimo o fato de que Ariel não conseguia conquistar o príncipe sendo ela mesma. Ok, parece tempestade num copo d’água, “Amine, você analisa demais as coisas. Relax!”, “Fala sério, para de viajar!”, “Você é feminista demais”, “Ah tá que você pensava nessas coisas quando era criança”, mas é algo que sempre me irritou.

Não sei como estão as últimas princesas da Disney, a Tiana, de “A Princesa e o Sapo”, e Rapunzel, de “Enrolados”, mas ainda não sou muito fã das princesas, seu totalitarismo rosa e os papéis nos desenhos. Prefiro os bichinhos. Bambi, Dumbo, O Rei Leão, O Cão e a Raposa, Procurando Nemo. Um dia escrevo sobre desenhos da Disney e jovens órfãos.

Escrevi isso tudo porque uma colega de Facebook colocou uma foto da Ariel no avatar e disse que sempre gostou da personagem. Nada contra e isso também não significa que ela não seja ou não possa se tornar uma feminista (e nem que as feministas precisem odiar a sereiazinha). Bom, a personagem que escolhi para homenagear neste dia das crianças é a Major Motoko Kusanagi. Pouca gente conhece, mas ela é uma bad ass motherfucker. Gosto quando as personagens fazem mais do que esperar por ser resgatadas por um príncipe, casar, ter filhos e viver felizes para sempre. Felicidade é um conceito muito subjetivo, não é mesmo?

FRASE DA SEMANA

“Se mosquitos fossem de Deus não sugariam nosso sangue, mas a gordura localizada”

Autor desconhecido

LEMBRA DISSO?

Priscilla Franco

Mesmo com uma lista enorme de precursores, o ICQ foi o primeiro comunicador instantâneo a cair no gosto dos internautas brasileiros. Seu ícone, uma florzinha verde localizada no canto inferior direito da tela, assinalava ao usuário que estavam abertas as portas da comunicação, e que não era mais necessário usar o telefone para manter contato com amigos e conhecidos. Para compor o cenário, é importante lembrar que a recém-popularizada internet ainda era acessada por discadores, poucos já possuíam um endereço de e-mail e nem se falava em redes sociais. Criado em 1996 por quatro israelenses vanguardistas, o ICQ recebeu esse nome, pois a sigla funciona em inglês como um acrônimo da frase “I seek you”, ou “eu te procuro”, em tradução livre. E certamente ele foi muito utilizado com esse propósito no mundo todo. Era possível encontrar o contato desejado a partir do nome e sobrenome, apelido, e-mail, ou por um número, que servia como endereço único de cada usuário, trocado entre paqueras em uma balada como se faz com o número de celular. Durante os anos em que reinou absoluto, o comunicador presenciou inícios e términos de relacionamentos, reais e virtuais.

Para se tornar um usuário bastava fornecer uma pequena quantidade de informações pessoais. Essa e as demais funcionalidades do programa são muito semelhantes aos comunicadores utilizados hoje em dia. Suas particularidades ficavam por conta dos ruídos inconfundíveis, como o que simulava uma máquina de escrever, durante a digitação, e o que era ouvido quando uma nova mensagem era recebida, traduzido na onomatopeia “oh, ou!”.

Seu declínio foi causado por várias compras, retomadas e negociações que o afastaram do mercado brasileiro. O ICQ acabou então ofuscado por outros comunicadores, alguns deles integrados ao sistema operacional do computador, como o MSN. Para os internautas saudosistas a boa notícia é que ele ainda pode ser encontrado na rede. Difícil é achar outros usuários brazucas que insistam em manter verde a florzinha no canto da tela.

LI, VI E OUVI

Juliana Scarini

Li: Se você gosta de histórias reais, o livro “Cabeça de Porco” de Luiz Eduardo Soares leva o leitor para o universo de favelas de nove estados brasileiros. As histórias contadas são baseadas nos relatos de MV Bill e seu empresário Celso Athaíde, que falam sobre a vida de jovens no mundo crime. O mais interessante é o posicionamento do autor em relação ao “fenômeno da invisibilidade” que ocorre todos os dias: o menor abandonado, o mendigo e o diferente passam despercebidos por todos nós. Um convite à reflexão da nossa sociedade.

Vi: Todo jornalista e, até mesmo quem não compartilha da profissão, deveria assistir ao documentário “Abaixando a máquina—ética e dor no fotojornarlismo carioca” de Guillermo Planel e Renato de Paula. Os dilemas da profissão são debatidos e analisados sob diferentes pontos de vista. Até que ponto o fotojornalista pode invadir o momento de dor alheia? Essa e outras perguntas permeiam todo o documentário e o questionamento é um só: qual o momento de abaixar a máquina e ser um mero expectador?

Ouvi: Talvez, de cara, você não lembre o que aconteceu em 11 de outubro de 1996, mas durante a semana muitos foram os sites, blogs e programas de televisão que lembraram os 15 anos sem Renato Russo. Apesar do tempo, suas músicas continuam atuais e a Legião Urbana é um dos grupos da gravadora EMI que mais vende discos em todo o mundo, chegando a 250 mil cópias por ano, segundo a UOL. Inspirada pelas notícias, e também, por gostar de suas composições, fico com um “clássico” do grupo intitulado “Mais uma vez” que jamais deixará de embalar gerações com sua mensagem de otimismo.

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