Há pelo menos dois anos escolhi em minha residência um local para ser de reflexão, de isolamento, de refúgio e, em certas ocasiões, até mesmo serve como um laboratório. Neste lugar coloco meus pensamentos em ordem, busco colocar meus sentimentos em equilíbrio. Ali posso me ouvir e ponderar sobre o que tenho feito e como estou me comportando.
Num desses meus momentos, neste meu lugar, percebi que além das funções acima, a minha sacada é também uma estufa de orquídeas, servindo como um jardim, uma vez que os meus Bonsais ali ficam.
Em outras oportunidades a minha sacada se transforma num local de repouso, especialmente na época de temperatura mais elevada, sempre após o almoço deito para aquela tradicional sesta. Ainda, a fim de demonstrar como o nosso lugar é naquele que nos sentimos bem, exponho que minha sacada serve, também, para receber os amigos como uma extensão da sala.
A minha sacada proporciona um belo visual de parte das montanhas da cidade e das matas que nos rodeiam. Desse lugar vejo animais cuidando de seus filhotes, outros passeando sobre os fios de telefone em direção a alguma árvore. Dela consigo ver o sol nascendo e a lua despontando.
Da minha sacada vejo braços de iluminação pública enferrujados e outros caídos. Vejo uma rua esburacada e sem a devida iluminação.
Por vezes, dela contemplo minha esposa a assistir TV ou ler seus livros.
Da minha sacada presenciei a ira das águas.
Da minha sacada observei o avanço de um incêndio covarde a consumir boa parte da vegetação. Durante a noite as chamas em linha causaram uma mistura de beleza e indignação. Durante a madrugada o silêncio permitia o som da vegetação morrendo, estalos de agonia, o cheiro sufocante da fumaça afetando aos animais e aos moradores das proximidades. O contraste da noite e a cor alaranjada das labaredas geravam uma beleza inútil. E qual a razão de toda essa beleza inútil? Não consegui resposta para o questionamento.
Da minha sacada observando o incêndio e tendo como companhia uma coruja que parecia gritar para que outros animais fugissem das chamas, causava-me um turbilhão de sensações.
A Lua se escondia por trás da fumaça e as estrelas igualmente envergonhadas sumiam. A fuligem caindo sobre os veículos e casas tal qual uma “neve negra”, mas ao contrário da verdadeira não trazia bons sentimentos e alegria.
Da minha sacada observando o resultado de mais um ato covarde constato que nós decidimos maltratar o mundo sem uma razão e sem justificativa. Maltratamos por pensarmos que somos os “donos”. Triste constatação e mais triste ainda perceber que em certos momentos estamos impotentes diante daqueles que pensam isso. Aqueles que ousam desrespeitar o equilíbrio natural da vida. Aqueles que se valem dos elementos de maneira irresponsável. O Elemento Fogo deve representar a vontade e a purificação e não a destruição. Enfim o homem deve agir de maneira a ocupar seu espaço e não invadir o que não lhe pertence.
Com o fim da madrugada e a chegada da claridade que antecede o nascer do Astro Rei, O Sol responsável por nos brindar com suas forças regeneradoras e salutares. O Sol que demonstra que a vida deve prosseguir apesar de tudo e o planeta continuará girando; nos mostra, igualmente, que nós teremos mais um dia para agir corretamente; nos traz a chance de evoluir e cuidar melhor da nossa casa e de nós mesmos.
Da minha sacada vejo que embora a beleza inútil das chamas e além da ira das águas a terra é de todos assim como o ar. Por esta razão devemos zelar pela harmonia entre os quatro Elementos e da espécie humana.
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.” (Platão)
Fiquem em Paz!
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