Professor Gregório pediu para que escrevêssemos sobre algo relacionado ao que foi apresentado em sala de aula.
Pensei em escrever sobre minha infância, inspirada na narração feita por ele. Entretanto, ao ler o último parágrafo de seu texto Mediação: ler e contar, contar e ler, que diz: “A contação é essencialmente importante para instigar a leitura, para provocar no outro suas memórias, suas histórias, seus acervos, sua compreensão da realidade e das coisas a sua volta. A prática de ouvir e contar histórias propõe a troca de saberes, promove o diálogo e favorece a interação entre quem ouve a história, o narrador e o texto provocador”, lembrei-me de um episódio vivido por mim quando meu filho caçula, Rafael, começou a frequentar o maternal.
Nos primeiros dias de adaptação à nova escola, as mães aguardam no pátio, meio ansiosas, as suas crianças. Enquanto esperam, a conversa costuma girar em torno de filhos, maridos, empregadas, o último capítulo da novela, artistas e as fofocas que envolvem suas vidas. No primeiro dia, participei como espectadora, daquele encontro. Os assuntos fluíam naturalmente de forma agradável, porém, superficial.
Para o nosso segundo dia, resolvi levar uma crônica de Artur da Távola. Li para um pequeno grupo de mães. Ao fim, analisamos o texto, destrinchamos cada parágrafo, cada oração, cada palavra. No dia seguinte foi a vez de Fernando Pessoa. Outras mães foram se aproximando e participando, assim como, outros escritores e poetas que, paulatinamente, foram se integrando a nós e aos nossos encontros. Trocamos, portanto, os nossos saberes, dialogamos, trouxemos nossas histórias, acervos, memórias e nos integramos.
As narrativas compartilhadas nos fortaleceram e nos ajudaram a nos conhecer mais profundamente e a nossa realidade. Como diz a escritora Rosa Montero em seu livro A Louca da Casa: “A narrativa é uma forma de inventarmos a nós mesmos.” E assim foi, nos inventamos e vivenciamos, naquele pequeno espaço de tempo, uma experiência inesquecível. Dali surgiram amizades que, apesar do tempo passado, resistem até hoje.
Ondina Meleiro é professora e supervisora pedagógica. Desenvolve suas práticas e seus estudos com grupos de formação de educadores na Uerj. Participou da oficina de contadores de histórias ministrada por Francisco Gregório Filho naquela universidade e produziu esse texto que revela para os leitores da coluna sua experiência sobre práticas de leitura.
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