Modernidade líquida

Por Valfredo Melo e Souza (*)
sexta-feira, 09 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

“Amor Líquido - Sobre a fragilidade dos Laços Humanos” é uma obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925/...) catedrático da Universidade de Leeds, Inglaterra. Indispensável conhecer uma mente produtiva de quase um século e ver por meio dela as transformações por que passou a humanidade neste período.

Mas, o que seria um amor líquido? “Líquido, do latim liquidu, refere-se àquilo que flui ou corre, tomando sempre a forma dos recipientes em que se encontra.”

A necessidade da reflexão sobre a obra de Bauman nasceu de uma demanda para envio de um “objeto sólido” a colegas, amigos e irmãos de Confraria listados no correio eletrônico. Só se conseguiu cerca de trinta por cento de endereços corretos de suas residências. Verdade! Não se sabia ao certo onde moravam os “amigos”.

Relações afetivas, familiares, empregatícias, tudo flui, ou melhor, escoa rumo a um buraco negro emocional. O caráter de intimidade e confiança que caracteriza os sólidos laços de amizade está seriamente comprometido por e-mails, Facebook e Twiters. Mandamos beijos e abraços efusivos a pessoas que nunca vimos e, por outro lado, deletamos com apenas um toque o melhor amigo do Orkut. É comum ouvir pessoas dizendo que adoram teclar com Fulano, todavia, pessoalmente, quase não se falam. Este não é o crisol da amizade real. São simples pontos de encontros virtuais.

O segredo que unia os melhores amigos, os melhores irmãos, que estabelecia um vínculo de confiança entre as pessoas acabou. A intimidade passou a ser compartilhada, às vezes, da forma mais cruel possível.

Por outro lado, famílias encontram seus entes queridos no “Facebook”, e isso mostra que devemos tomar cuidado em nossas avaliações sobre o mundo virtual. Um mau julgamento será sempre limitador. Vive-se uma “modernidade líquida”, no dizer de Bauman. As pessoas estão codificadas, plugadas, conectadas, blogadas, tuitadas. São uma metamorfose ambulante, como na cantoria de Raul Seixas, para não ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”. No fim dos anos sessenta, início da informática no Brasil, o ufólogo Erich Von Deniken—autor de “Eram os Deuses Astronautas?”—preconizava esses andamentos cibernéticos (o indivíduo seria um cartão perfurado—com programação prévia).

Nas sociedades ditas esotéricas usa-se a “nova onda” do email para disseminar doutrinas, rituais, estatutos e tudo o mais. Enviam-se questionários, tarefas e demais comunicações por computador. Só na Iniciação exige a presença do candidato... Um descalabro. É o hedonismo do american way of life com excessivo consumo de energia.

A grande lição de Bauman no livro Amor Líquido é que ele não vê a liquefação dos laços sociais como uma perda de valores, mas sim, como a construção de novos paradigmas. Relações que antes eram compulsórias, hoje podem dar-se de forma mais espontânea.

A internet está aí agilitando tudo. Paciência. Afinal em todas as eras a humanidade enfrentou desafios. Por que agora seria diferente? Tempos difíceis e complexos. Mas, fica um recado de Gurdjieff: “A vida só é real quando nós o somos”.

(*) jornalista e escritor

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