Chego à varanda para apreciar o céu profundamente azul, sem uma nuvem sequer. Ao fundo o Caledônia se destaca e a mata verde ao redor compõe um quadro natural de rara beleza. A luminosidade é perfeita, quase cinematográfica, e o ar muito puro dá o toque final de perfeição. É, estou falando do céu de Nova Friburgo no inverno, que chega a parecer artificial!
Desde que vim para cá não consigo parar de admirar. Nasci e fui criado em apartamentos no Rio de Janeiro e, tirando a praia, só vislumbrava uma nesga do céu entre os edifícios. Imaginem minha surpresa quando vim para cá e descobri maravilhado que podia ter um cenário fantástico através de minhas janelas e varandas, bem acima de mim.
Só isso valeu a mudança!
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E o céu da noite? A primeira vez que fui a São Pedro da Serra, lá pelos anos 70, fiquei literalmente de queixo caído quando olhei para cima. Estrelas, muitas estrelas, uma visão que jamais tinha visto! A baixíssima iluminação ao redor da pousada favorecia a observação de constelações, nebulosas, o que a imaginação quisesse enxergar. Lembro-me que deitei na grama e fiquei horas olhando as estrelas e os pequenos cometas que riscavam levemente a paisagem.
Quando comprei o apartamento, o Sans Souci era pouquíssimo habitado, com algumas ruas ainda de terra e a iluminação pública praticamente inexistente. Um belo dia, andando à noitinha pelo canteiro de obras, percebi alguns pontinhos luminosos, piscando aqui e ali. Intrigado, fui em sua direção: eram vagalumes! Sério, gente, eu nunca tinha visto um em toda a minha a vida e ali haviam dezenas, piscando pra cá e para lá.
Por muito tempo convivemos com esses insetos lúdicos, até que, infelizmente, nosso progresso os expulsou para matas mais tranquilas. Uma pena... Aliás, até as estrelas ficaram ofuscadas e hoje, só a Lua consegue iluminar nosso platô com sua luz branca e generosa.
Um espetáculo, sempre!
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Outro céu que volta e meia dá suas caras é aquele que descobri na seca de 2007, quando quase todos os morros da cidade pegaram fogo. A fuligem entrava pelas as janelas, o ar muito seco e sujo ficou irrespirável, provocando a ida de centenas de pessoas ao hospital. As matas queimavam dia e noite e o azul ficou encoberto por uma nuvem cinza e triste. Tinha dias que quase não dava para ver o Caledônia, tantas eram as queimadas.
As consequências foram desastrosas e homens, animais e plantas sofreram. O condomínio foi tomado por abelhas que fugiam do fogo. Agressivas, fizeram suas colmeias nas chaminés das lareiras e só os apicultores conseguiram removê-las, em uma operação que durou vários dias.
Outra visão triste foi assistir o fogo lamber a mata ameaçando queimar várias casas em seu caminho. A ação de bombeiros, moradores e voluntários controlou o incêndio mas, até a volta das chuvas, a atenção e tensão eram redobradas. Para mim, a imagem do fogo cercando residências era absolutamente inédita.
Decididamente, um céu para se esquecer...
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Em dezembro do ano passado vi o céu mais ameaçador de Nova Friburgo, o céu das chuvas. Como moro bem na direção da serra, costumo observar as tempestades se aproximando, um espetáculo bonito e sinistro. Algumas vezes, as nuvem são empurradas pelo vento e se acumulam em cima de nosso morrinho. Aí ficam negras e ameaçadoras até despejarem suas águas.
E os raios e os trovões? No Rio, pela densidade e quantidade de edifícios, mal vemos os raios e os estrondos dos trovões são diluídos, parecem sempre vir muito de longe. Aqui não, o raio cai na sua frente e sua casa literalmente treme, quando o trovão ribomba. Tem quem goste...
Já ficamos isolados quando árvores caíram e fecharam as duas saídas do bairro. De vez em quando cai granizo, que encanta e preocupa, afinal são pedras de gelo. Perdemos um muro, derrubado pela força de uma enxurrada. Nossos jardins sofrem com as pancadas violentas de água. São as chuvas de verão, pura e simplesmente.
Nada no entanto se compara ao que aconteceu em janeiro. Desta vez eu estava fora da cidade e só fiquei sabendo a real extensão dos danos pela televisão. A quantidade de água que caiu sobre Nova Friburgo foi de uma magnitude que só acontece a cada 300 ou 500 anos, segundo os especialistas. Porém, tenho certeza de que os danos pessoais e materiais seriam bem menores se tivéssemos um pouco de bom senso.
Não sei como era o céu do dia 12 mas a devastação que as chuvas provocaram podem ser observadas até hoje...
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O céu de Nova Friburgo tem várias cores e muitos humores. Temos os privilégio de morar num pequeno paraíso azul e verde, respirar o ar puro das montanhas e ainda por cima com um clima muito gostoso. No entanto, o que fazemos ou deixamos de fazer é que vai determinar o futuro que deixaremos para nossos descendentes.
Por ora, falamos muito das chuvas e meio ambiente, mas continuamos sujando as matas, assoreando os rios, ocupando encostas desprotegidas e derrubando árvores. Ignoramos que somos apenas uma pequena parte da Natureza e que a vida vai seguir seu rumo sob os céus de Nova Friburgo.
(*) - carlosemersonjr@gmail.com
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