Palavreando - Verdade nua e crua - 6 a 8 de agosto 2011

sexta-feira, 05 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Todos os meus amores são platônicos, tanto quanto intensas as minhas desilusões. E a verdade sempre vem e por mais que pareça clichê, a verdade sempre chega mais cedo ou mais tarde.

Segredos são motivações para o desvende, por isso foram feitos para serem descobertos. Eles perseguem, despertam curiosidade e por mais que estejam bem guardados clamam para ter cúmplices e os cúmplices clamam para ter outros cúmplices até que o mundo inteiro sabe e isso alivia a consciência tanto quanto a perturba. E são tantos quantos que o coração tem congestionamento de emoções alegres e adversas e em ambos os casos, avassaladoras.

A verdade decepciona, mas nos muda. A verdade corrói, mas nos liberta. A verdade é divina e por isso nos faz crescer. Mas nem só porque cresce, não ouse roubar estrelas. Não há inimigo maior que a própria consciência.

Então só porque a verdade aparece, não espera perdões lisonjeiros só porque trouxe flores apanhadas no jardim. Nem espera beijos na face e na boca só porque emprestou o rosto enquanto estava iluminada por raios de sol. A verdade é contemplada, o resultado do que faz, nem sempre.

Desejada, a verdade pode ser dispensada... Talvez, melhor não conhecê-la... Mas a verdade vem, desnudada, sem pudor e temor para revelar o que a vida inteira não pode esconder. Então, por que adiá-la para um momento certo?

A utilização de meias verdades não leva a lugar algum. Não existem meias verdades, nem verdades inteiras. Verdade é apenas verdade, sem prefixos, nem sufixos. Por isso, por mais que machuquem, por mais que afastem, é melhor a verdade do que a dúvida. A verdade ainda é melhor do que o sufoco que paralisa e narcotiza. A verdade sempre vem sem necessitar de maiores argumentos. Ninguém está pedindo explicações.

Então, quero a verdade mais que o silêncio ou a falta de respostas. Quero encontrar a verdade escondida na minha essência. Quero o frio concreto para desvendar o abstrato que me faz voar. Quero a verdade desses amores passageiros e também desses que ficam insistentemente. Quero a verdade dessas desilusões que me visitam de forma intrusa. Quem as convidou? Meu clamor pela verdade e minha sina em suas estranhas, mas esclarecedoras revelações.

Verdade vem, ainda que doa. Pede verdade, ainda que não seja agradável e frustre expectativas. Seja verdade para conter e também expandir exageros. A verdade e só a verdade pode cometer esse pecado, pois perante a verdade esse pecado se transforma em virtude.

No fim de tudo, o mais engraçado, talvez sarcástico, é que a mesma verdade que fere é a que cura. A mesma verdade que derruba é a que levanta. A verdade nunca estagna, ainda que momentaneamente possa paralisar. A verdade alforria para se avançar, ainda que possa fazer recuar para se reconhecer.

E sempre entre os extremos, a verdade nos mostra que o tempo é escasso. Essa é a mais coletiva e a maior verdade de todas. E mesmo sabendo disso, nem sempre nos mostramos atentos para fazer o que tem que ser feito agora. Sob o medo do espanto e da admiração que a verdade pode causar quase nunca nos permitimos a deliciosa liberdade de ser o que é e de dizer o que se tem pra dizer.

Afinal, acreditamos sempre ter o amanhã e quando o amanhã já se apresenta mais incerto, não é que nos aflora a coragem, mas sim a urgência de ser a verdade que desejamos e a verdade que o mundo espera de nós. Mas essa chance não é garantida e hoje pode ser a última chance de ser verdade para si, para os outros e para o mundo. Pode parecer clichê, mas essa é a verdade, nua e crua, como a verdade é e tem que ser.

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