Buscando manter a harmonia e a fraternidade em alta conta, é útil atentarmos para um dos obstáculos que criamos e nutrimos. Todos, em algum instante de suas vidas ou, infelizmente para alguns, em vários momentos da sua existência, somos regidos pela vaidade. Mas devemos ponderar acerca do impacto que ela nos causa e como isso implica em nosso julgamento das situações e das pessoas. Isto é imprescindível para tomarmos consciência de que há em nós dois lados sempre.
Acredito que somos seres duais. Devemos aceitar isso. Acolher essa realidade e escolhermos o melhor caminho para que trilhemos o mais equilibradamente possível. Há a humildade e a vaidade. Existe o bem e o mal. E também o equilíbrio, o meio! Diante das referências culturais de nossa sociedade atual, as pessoas que se destacam de alguma maneira são consideradas importantes. Mas o destaque pode se transformar numa fonte falsa da verdadeira felicidade. Então, se for esta a motivação, grande parcela da humanidade está próxima da infelicidade. Está infectada pela vaidade e a inveja e buscará meios moralmente questionáveis para alcançar algum tipo de notoriedade.
O destaque tem muito pouco a ver com a efetiva utilidade que a pessoa destacada possui na sociedade em que vive. Uma pessoa muito bonita, que não tenha feito nada de relevante, pode ser uma personagem destacada, admirada e extremamente valorizada em seu meio. Um herdeiro de fortuna a qual não fez por merecer, a não ser por laços familiares, pode desfilar pelas ruas com um carro da moda e chamar a atenção de uma forma espetacular. Essas pessoas tornam-se destacadas e algumas são até chamadas de celebridades. São admiradas; suas vidas se transformam em fonte de grande curiosidade para nós, tidos como “comuns”.
O malefício deste tipo de classificação das pessoas, definido pela competência para chamar a atenção das outras, é mais que evidente. Impulsiona crianças e adolescentes à busca desenfreada de destaque e os afasta de atividades incrivelmente gratificantes, importantes e úteis. Aliás, a palavra importante acabou relacionada apenas com a notoriedade que o indivíduo consegue obter. Importante é quem se destaca, quem é rico, belo, magro. Infelizmente não há nenhuma correlação entre importância e utilidade social da atividade exercida pela pessoa. O que concluo com este tipo de tratamento é que atividades essenciais à vida socialmente passam a ser tratadas como secundárias. Há uma completa subversão de valores.
Nos dias em que vivemos, o importante é aquele que aparece nos jornais ou revistas. Não se trata de desconsiderar as atividades que emprestam destaque e notoriedade, mas o essencial é que existem atividades de extrema valia e utilidade social que não são minimamente valorizadas. A fama e a fortuna estão cada vez mais interligadas. Agora, o enfermeiro, o professor, o policial, o bombeiro, a secretária não têm o destaque e valem socialmente muito pouco, é trágico! A pessoa que ensina nossas crianças a ler e a escrever não possui o destaque merecido.
Busco estimular o pensamento de que deveríamos prestigiar aquelas criaturas que, sem alarde, cuidam do dia a dia dos enfermos, da formação intelectual das crianças e adolescentes, da nossa segurança. O anonimato não deve ser um desconforto. Ele, na verdade, é a demonstração de amor e orgulho em exercer atividades importantes e úteis. E os “anônimos” costumam ser mais felizes que alguns dos “destacados”.
Fiquem em paz!
Deixe o seu comentário