Terminado o mês de junho, mês do santo casamenteiro, nada como falarmos de uma história de amor que atravessa os séculos. Uma história que nos mostra, mais do que qualquer outra, o valor curativo e transformador da palavra.
Há muito tempo atrás, numa terra muito distante, um sultão chamado Sharyar descobriu que sua mulher o traía com um escravo. Furioso, ele matou os amantes e jurou jamais se aproximar de outra mulher.
Mas, com o tempo, o sultão foi tomado por uma grande aflição. Sentia falta de amor, ou pelo menos da ilusão do amor, mas tinha medo de ser novamente traído. Foi, então, que ele tomou uma decisão macabra. Todos os dias ele se casaria com uma virgem e a mataria na manhã seguinte. Dessa forma ele acreditava que jamais seria alvo de uma nova traição.
O grão-vizir foi encarregado de escolher as jovens virgens e, mesmo a contragosto, cumpriu durante três anos essa terrível missão.
Um dia, porém, o grão-vizir não encontrou nenhuma jovem do reino para saciar a sede de vingança do soberano e não sabia o que fazer. Acontece que ele tinha uma filha chamada Sheherazade. Uma jovem muito bonita. Tão bonita quanto inteligente, que vendo o sofrimento do pai se ofereceu para ir ao palácio dizendo que não seria mais uma vítima das maldades de Sharyar, pois tinha um plano que iria salvar o reino. O pai tentou fazê-la mudar de ideia, mas ela tanto insistiu que ele a levou para se casar com o sultão.
Antes de partir, Sheherazade pediu a sua irmã, Dunayazade, que fosse no dia seguinte, ainda de madrugada, ao quarto dos noivos. Após a noite de núpcias, quando Sharyar só esperava o nascer do sol para mandar matar sua esposa, a jovem pediu para se despedir de sua irmã. Assim que Dunayazade entrou nos aposentos reais, solicitou ao sultão que deixasse que a irmã lhe contasse pela última vez uma história. Sharyar concordou sem saber que isso já fazia parte dos planos da noiva.
O que ele também não sabia, era que Sheherazade contava histórias maravilhosas e que todos que a escutavam queriam que ela contasse mais e mais. Naquela noite, ela contou uma história tão bonita, tão cheia de encantos e magias, que o sultão ficou encantado. Mas, assim que o sol nasceu, a moça interrompeu sua narrativa bem no meio, pois é costume entre os árabes parar tudo o que estão fazendo para rezar suas orações e também a hora em que ela deveria morrer.
Sharyar, curioso em saber o desfecho da narrativa, permitiu que ela vivesse somente mais um dia para terminar o que estava contando, sem saber que as histórias de Sheherazade eram muito compridas, e que, dentro delas, havia outras histórias, e outras mais, que o deixavam sempre em suspense, querendo saber o que viria depois. Daí, que a narrativa durou 1001 noites, no fim das quais, o sultão já estava completamente apaixonado por Sheherazade, já tinha dois filhos com ela e não queria mais matá-la e com ela viveu feliz o resto dos seus dias.
Adaptação da introdução do livro Mil e uma noites, feita por Augusto Pessoa, ator, diretor de teatro, escritor, contador de histórias e promotor de leitura, atualmente em cartaz com A mulher mais bonita do Rio de Janeiro no teatro da Caixa Econômica no Rio de Janeiro.
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