Um remanescente da Jovem Guarda em Nova Friburgo

sexta-feira, 24 de junho de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Um remanescente da Jovem Guarda em Nova Friburgo
Um remanescente da Jovem Guarda em Nova Friburgo

Por Carla Dayane, aluna do 5º período de Jornalismo da Universidade Candido Mendes

Nasceu em 1944, filho de um bancário e de uma artista; foi cantor profissional na época de ouro da Jovem Guarda, que explodiu no Brasil e no exterior. Além disso, trabalhou na Varig como comissário de bordo. É um verdadeiro apaixonado por tecnologias e muito detalhista. Mudou-se de cidade diversas vezes até encontrar definitivamente o lugar ideal para morar: Nova Friburgo.

Esse geminiano que fala “pelos cotovelos” é Mário Cesar, mais conhecido entre os amigos como Marinho. Com 67 anos “turbinados”, como ele mesmo diz, mostra maturidade pelas experiências vividas, mas não deixa de lado as brincadeiras e palhaçadas de um jovem garoto. Está sempre alegre e comunicativo.

Desde criança teve inclinação para as artes. Aos quatro anos de idade, sua mãe o levou para fazer um teste vocacional: o resultado foi “música na cabeça”. Mário atribui essa tendência à sua mãe, que na juventude tocava violão, piano e ainda cantava nas rodas de amigos.

Sua carreira como cantor teve início em 1962, quando chamou uma amiga para participar de um concurso de Twist da TV Rio, no programa “Hoje é dia de Rock”. A intenção dele não era ganhar, mas estar no ambiente da TV, próximo às pessoas que pudessem ser bons contatos. Em 1964, contatou o apresentador do programa “Nós, os brotos”, da TV Continental, e se alistou para fazer um teste de voz, violão e piano. Foi aprovado e não demorou muito para se tornar uma peça chave dentro do programa, acompanhando, inclusive, os artistas que se apresentavam lá.

Mário gravou seu primeiro disco em 1965, através do Jonas, que era dono de uma loja de discos de vinil em Copacabana e diretor artístico da Gravadora Mocambo. Fez um teste na gravadora e foi aprovado imediatamente. Esse foi o estopim para que ele se apresentasse nos principais programas musicais televisivos e também nas principais rádios, ganhando máxima popularidade no país.

Numa época em que muitos artistas emergiam, Mario conta sua dificuldade e persistência para se tornar conhecido. “Era preciso levantar de madrugada, pegar o disco, botar debaixo do braço e levar em tudo quanto era estação de rádio e pedir para tocar o disco. O que fazia o sucesso do artista era ficar conhecido pelas rádios, para depois ser chamado pelas TVs. Rádio era o que projetava o artista na mídia”.

No Brasil, cantou ao lado de grandes nomes da música popular. Paulo Gracindo, Manuel Barcelos, Marlene e Roberto Carlos foram alguns deles. Seu repertório era eclético. Interpretava músicas de sua autoria, de Chico Buarque, Eda Reis e de alguns cantores internacionais.

Uma carreira internacional inesquecível

Inspirado pelo desejo do sucesso internacional e pelas novas experiências que lhe renderiam, foi para Portugal após mandar suas gravações e fotos para análise na Philips portuguesa. O cantor português Dário, que conheceu em shows no Brasil, foi quem deu todo o suporte, encaminhando todos os trabalhos.

Chegando em Portugal, a Philips gravou seu disco traduzido. Com isso, fez os melhores programas de TV, cantou nos principais cassinos, e foi lançado como artista internacional. Não foi difícil conseguir contratos para se apresentar na África, Moçambique, Paris e outros cantos do mundo. Apesar de fazer shows em diversos locais, sua base era sempre em Portugal.

Ainda que bem-sucedido profissionalmente, Mario assume ter ganhado dinheiro suficiente apenas para viver bem fora do país, até com algumas regalias, porém ele conta que o trabalho artístico é muito oscilante e quando chegava o inverno na Europa, os shows ficavam escassos.

Uma nova etapa

Paralelamente à carreira artística, resolveu fazer um curso para entrar na aviação, na esperança de ter estabilidade financeira. Em 1975, entrou para TAP em Portugal e logo depois para a Varig no Brasil. Com a convivência entre povos e culturas diferentes, não teve problema algum em falar línguas estrangeiras, o que beneficiou sua carreira na aviação.

Em 1989, se aposentou pela Varig. Já estava de volta ao Rio de Janeiro há algum tempo, mas não queria aquela vida agitada que sempre teve, em meio aos grandes centros urbanos. Inspirado pelo ar puro, a tranquilidade e pelas belezas naturais da região serrana do Rio, elegeu Nova Friburgo entre as principais cidades. Em 1992 conseguiu uma boa casa no bairro Parque Imperial, onde passou alguns anos de sua vida. Saiu e voltou para Nova Friburgo pelo menos umas três vezes. “Nunca fui uma pessoa tão feliz e tão realizada quanto sou agora. E me mudar, nunca mais. Sair de Friburgo, só se for pro andar de cima.”

Hoje mora próximo ao centro da cidade, num lugar que mais parece os Alpes Suíços. Mário se dedica com vigor às pesquisas na internet, ama baixar vídeos e músicas e passa longas horas catalogando o material de interesse. É amante de filmes clássicos, faz coleção de fotografias de artistas. É fã fiel da Gina Lollobrigida (atriz de cinema italiana). Mário é do tipo que se sensibiliza com as apresentações de PowerPoint que recebe dos amigos nos e-mails, e faz questão de repassá-los para quem os curte também. E qualquer assunto cultural relacionado à TV, cinema, rádio e internet podem ser discutidos através de um bate-papo com um remanescente de uma época que não volta mais.

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