Por Alessandro Lo-Bianco
A sociedade passa por um momento em que o aquecimento global, a conscientização ambiental e a responsabilidade social estão na moda. Aliás, ser ecológico está na moda. Ter um selo em nosso site demonstrando que estamos de acordo com as novas normas de segurança ambiental também virou mania. Grandes empresas como Petrobras, Vale ou MMX — organizações que, diga-se de passagem, mais impactam o meio ambiente — estão colocando no horário nobre, cada vez mais, propagandas de responsabilidade ambiental. Isso porque, dizer que queremos ter ações sustentáveis esta gerando lucros. Mas será que a moda também está ecológica?
A África está em destaque, não só mundo fashion — como o estilista Marc Jacobs, que apostou para Louis Vuitton em elementos étnicos em suas últimas coleções Primavera/Verão — mas também na decoração. Para a estilista Aline Dantas, além do modismo trazido pela onda do ecologicamente correto, nada mudou: “Fiz uma pesquisa para saber o que estava rolando no Brasil e em outros países em relação a contemplações estilísticas no mercado da moda e na área de decoração e fiquei assustada com o que vi!”. Isso porque Aline conta que não há nada demais em ter gostos “diferentes e bizarros”, mas que o limite já foi excedido há muito tempo. Podemos citar como último caso de repercussão mundial a utilização de peles de animais por parte da Arezzo no mês de abril deste ano, sinalizando ainda sua coleção, na maior “cara dura”, pelo nome de “Pele Mania”, composta por sapatos, bolsas e echarpes com pele de raposas e coelhos, além da utilização de couro natural. Ela diz que não se incomodou ao longo de sua pesquisa pelo fato de notar o uso de utensílios como um “Bowl” com estampas africanas — um jeito mais glamouroso que os abastados chamam uma pequena tigela ou um prato de sobremesa —, não se incomodou por notar a quantidade de compras relativas ao vaso da Le Lis Blanc com estampas de onças (pintados com tinta), ou um pôster de zebras ou elefantes da editora Italiana Ricord, muito menos pelas vendas de almofadas em formatos de gorila da Benedixt ou a imagem de um tucano da Helvétia como boas dicas para decorar um espaço. Mas outras coisas realmente a deixaram frustrada. “Descobrimos a compra e a transformação de alguns elementos em produtos que me deixaram pasma! Será que está na moda usar um casco de tartaruga chinês como decoração da sua sala, bem como um tapete de Leoa? Aves? Um casal de codornas trazidas da Espanha ou um Ibex (cabras empalhadas — espécie que se encontra ameaçada de extinção) simplesmente a venda por preços exuberantes em alguns antiquários? Não é ilegal retirar coral da nossa flora para colocá-lo em cima da mesa de centro da sala? Ficamos abismados com a quantidade de corais que são arrancados do fundo do mar para tais fins. Será que não é antiético usar chifres de alce como apoio de uma simples escrivaninha? Por que as pessoas fazem isto?”, indaga a estilista.
Pecado? Luxúria? Egocentrismo? Para todos aqueles que têm plena consciência de que estamos perto de um apocalipse ecológico, a resposta é sim! Estão retirando da natureza elementos que agora são irreversíveis. Ainda segundo Aline, após suas pesquisas, o fato ocorre por um único motivo: “O clã da high society é o grande responsável, pois são eles que demandam a aquisição destes produtos, diga-se de passagem, de péssimo gosto! Traçamos um perfil deste tipo de consumidor e constatamos que são pessoas que precisam aparecer para se destacar dentro da sociedade. Para isso, ostentam objetos raros que, quanto maior é a dificuldade para consegui-los, maior é seu valor. Chegamos à conclusão que quase 90% deste material provem de origem duvidosa”.
A moda poderia aproveitar seu grande poder de formar opinião junto à imprensa e se deixar levar por esta “onda verde” de preservação e conscientização. Isso sim deveria servir de base real a todos os estilistas e designers para, a partir daí, buscar verdadeiras fontes de inspiração para suas criações.
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