Onicotomia
Depois da polêmica em torno da cordotomia — cirurgia para retirada de cordas vocais que deixa o bicho sussurrando em vez de latir e miar — um novo procedimento veterinário promete ainda mais barulho: a remoção definitiva das unhas dos gatos.
Conhecida no meio médico como onicoplastia ou onicotomia, a operação é feita sob anestesia geral e leva menos de uma hora. Dependendo do paciente, é preciso manter o animal internado por três dias.
Uma a uma, as unhas das patas dianteiras são arrancadas juntamente com a raiz. A falange de cada dedo também é retirada para que a unha não nasça nunca mais. O bicho deixa o hospital com as patinhas enfaixadas e deve sentir dificuldade em andar ao menos nas 24 horas seguintes. Quem procura pela cirurgia de remoção de unhas são donos de animais que vivem geralmente em apartamentos, não querem ver seus móveis ou paredes arranhados pelas garras afiadas do felino, mas desejam ficar com os bichos.
Há uma série de motivos que levam o gato a manter o antigo hábito de “esticar” as unhas. Quando é filhote, está se descobrindo e conhecendo o ambiente em que vive; adulto, faz isso para se “exercitar”.
Móveis, estofados e tapetes são seus objetos prediletos. Na verdade, eles estão desgastando as bainhas velhas e duras para expor as novas garras que vêm por baixo, como instinto de defesa.
Existem, porém, meios menos invasivos de controlá-lo. O próprio veterinário pode explicar ao dono como o corte da unha deve ser feito sem causar nenhum dano ao animal. Uma dica é usar cortador de unhas projetado especialmente para impedir rachaduras. Outra sugestão é manter arranhadores para que o gato se exercite e amenize sua ação sobre móveis.
Pelas normas do CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinária), de São Paulo, a cirurgia para retirada de unhas é considerada uma agressão, e o procedimento médico, sujeito à punição. “É uma mutilação, uma violência”, critica o interventor federal do conselho, o veterinário Flávio Prada, 64. Segundo Prada, a operação é antiética, e quem a pratica pode sofrer um processo do CRMV — que implicaria de sanções de advertência a cassação do exercício legal da profissão. Para que isso ocorra, primeiro é preciso registrar uma denúncia por escrito no conselho. Fiscais do órgão vão então investigar o procedimento e, dependendo do caso, transformá-lo em um processo a ser analisado pela comissão ética do órgão.
Infelizmente algumas complicações podem surgir desta atrocidade. Dentro das unhas ou garras existe um vaso razoavelmente grosso, que quando cortado provoca hemorragia. Para evitar a hemorragia após a cirurgia, as patas do animal são enfaixadas firmemente. Como são necessários curativos diários, as faixas são trocadas e existe a possibilidade da ligadura ficar muito frouxa — provocando sangramento, ou muito apertada — provocando gangrena.
DEC. Nº 13/93 DE 13 DE ABRIL (Convenção Europeia para a Proteção dos Animais de Companhia)
Intervenções Cirúrgicas
- Nº 1, do art.º 10º — “As intervenções cirúrgicas destinadas a modificar a aparência de um animal de companhia ou para outros fins não curativos devem ser proibidas e, em especial: a) o corte da cauda; b) o corte das orelhas; c) a secção das cordas vocais; d) a ablação das unhas e dos dentes”.
- Nº 2, do art.º 10º — “Apenas podem ser autorizadas exceções a estas proibições: a) se um veterinário considerar necessária uma intervenção não curativa quer por razões de medicina veterinária, quer no interesse de um dado animal; b) para impedir a reprodução”.
Deixe o seu comentário