Numa de minhas andanças presenciei uma reunião entre jovens e anciãos de uma comunidade. Os jovens não tinham conseguido respostas dos líderes e, por conta disso, recorreram aos antigos, a fim de que eles pudessem auxiliar na dissolução dos problemas. Os jovens queriam um exemplo de união que fosse observado e praticado por todos.
Os anciãos se reuniam à sombra de uma jabuticabeira e durante a reunião colhiam e saboreavam os frutos. Naquele momento percebiam a sabedoria do grande senhor do universo ao sentir o sabor das frutas, fechavam os olhos e se permitiam um sorriso caridoso e feliz, ao mesmo tempo em que, de olhos abertos, mantinham um olhar complacente.
E foi exatamente após esse momento que surgiram os jovens, vindo em sua direção. Eles os saudaram e um dos jovens falou, e em sua voz os antigos puderam sentir toda a angústia da comunidade. “Senhores, visitamos, todos nós do grupo, a nossa comunidade, em todos os cantos, estivemos no Norte, no Sul, no Ocidente e no Oriente. Presenciamos a ansiedade de nossos irmãos acerca de suas necessidades, mas percebemos que os nossos líderes não chegam até eles. Observamos nas crianças um olhar com brilho, mas sem onde pudesse refletir. Os adultos, com olhares dispersos, preocupados, sem saber o que virá. A nossa sensação foi a de que, metaforicamente, cada um dos membros de nossa comunidade se sente incompleto, como se cada um tivesse apenas uma asa. E eles não podem voar apenas com uma asa”, exclamou o jovem.
Então, os anciãos se reuniram e o mais antigo e experiente, em sua sabedoria e brandura, respondeu pacientemente ao jovem questionador: “Sim, nós sabemos disso. Sabemos que boa parte de nossa comunidade ficou com apenas uma asa. E isso não é ruim”.
Surpreso com a resposta, o jovem perguntou: “Senhores, mas como entendem assim? Por qual motivo nada fizeram para modificar essa situação? Nós éramos livres, e agora não mais. Nada é feito pela comunidade, não presenciamos nenhuma ação de nossos líderes que possa nos confortar. Eles se esqueceram de nós?”
“Meu jovem, todos eles podem voar, sim. Estão com apenas uma asa para que pudessem voar mais e melhor. Para poderem evoluir levemente. Como os pássaros, que ao mesmo tempo em que estão juntos, se debandam. Mas, os nossos, com sua única asa, necessitarão sempre dar as mãos e entrelaçar seus braços, assim terão suas duas asas. Na verdade, cada um deles tem um par de asas. Em cada canto da nossa comunidade, por mais singelo que seja, sempre terá um irmão com a outra asa, e assim, sempre estarão se completando, sempre serão um par”.
Diante de tão forte e bela instrução, os jovens partiram para semear a boa notícia.
Todos nós somos livres e iguais, portanto, capazes de fazer e conquistar o que é nosso. Fraternalmente podemos construir e chamar a atenção dos líderes. Pelo menos na comunidade que visitei novamente, depois de alguns anos, estava tudo a cada dia melhor.
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