Bruno Pedretti
Quem acha que fotografar é uma tarefa simples está completamente enganado. Uma boa fotografia requer muita técnica e prática do profissional que está atrás da câmera. Muitas vezes uma fotografia bem feita revela fatos que nem mesmo um texto de qualidade carrega. Fotógrafos amadores existem de montão por aí, mas profissionais qualificados não são encontrados em qualquer esquina.
Durante a tragédia em Nova Friburgo, em janeiro, os melhores fotógrafos do país passaram pela cidade para registrar os tristes momentos da população. Entre eles, Gerson Gonçalo. Nascido no Rio de Janeiro, mas friburguense de coração, ele registrou diversas imagens marcantes e foi convidado a expor suas fotos numa das revistas de fotografia mais conceituadas do país, a “Fotografe Melhor”.
Gerson começou a gostar de fotojornalismo quando trabalhava na Universidade Estácio de Sá, onde exercia a função de técnico de laboratório de televisão. Na época o carioca sempre se interessava em trocar sua câmera de vídeo pela máquina fotográfica, com o fotógrafo Luiz Ackermann. Gerson lembra com carinho a primeira foto publicada. “Foi na série Sexo & Cia., ganhei diversos prêmios pela universidade com essa fotografia”, orgulha-se.
Atualmente Gerson tem sua própria empresa de fotografia corporativa e social, a 2.8 Imagens. Mas, para chegar a esse nível, o fotógrafo já trabalhou em vários lugares. “Comecei trabalhando na antiga WKS Studios, como assistente de câmera; já como operador de câmera passei pela Blue Light, Estácio de Sá, TV Novo Tempo, onde tive oportunidade de viajar por todo o país, e logo depois fui convidado para voltar a Estácio, como técnico do laboratório de fotografia e professor do curso de férias e extensão. Hoje presto serviço à agência Folha Imagem e aos jornais O Dia e Lance”, conta.
Segundo Gerson, a grande dificuldade que encontra não é fotografar, mas conseguir mercado. “As redações estão enxugando cada vez mais suas equipes e, infelizmente, a falta de profissionalismo e ética fazem parte da fotografia social”, afirma. Mesmo assim, ele encontra motivação para seguir na carreira. “Tenho duas motivações no fotojornalismo: saber que estou passando informação para milhares de pessoas sem falar e escrever uma palavra sequer; e no social, onde conto histórias de famílias da forma que registro nas fotos, sem interferir”, destaca.
Gerson é um confesso apaixonado por esporte e adora clicar lances de uma partida de futebol. Mas também gosta de registrar momentos políticos e espetáculos em geral. Perguntado se sente que está se desenvolvendo profissionalmente, ele responde com humildade: “Não me desenvolvi completamente, e não vou chegar a este ponto. A cada dia tenho uma situação de luz, pauta e personagem diferentes”, garante. Gerson faz questão de lembrar dos fotógrafos que o ajudam. “A Isabela Kassow, Junia Lane, o Luiz Ackermann e Marcus Vini me ajudam muito a me desenvolver fotograficamente, além de meus familiares, que têm uma importância muito grande no que sou, especialmente meus pais e minha esposa”, afirma.
O trabalho realizado durante a catástrofe na Região Serrana fez com que Gerson Gonçalo ficasse mais exposto na mídia nacional e, com isso, foi convidado a participar da edição de março da revista especializada “Fotografe Melhor”. A redação da revista entrou em contato com ele depois de ver suas fotos publicadas em vários veículos de comunicação, através da Agência O Dia. “Fiquei muito feliz, vi e vejo esta oportunidade como reconhecimento ao meu trabalho, principalmente por toda a dificuldade que passamos para informar pelas imagens o que estava acontecendo em nossa cidade”, pontua. Gerson ficou sabendo que suas fotos estavam sendo muito vistas por conta de sua caixa de e-mails, repleta de recados, e pelas redes sociais. “Me senti realizado profissionalmente, sei que cumpri minha missão”, diz.
O fotógrafo conta qual foi o registro mais impactante feito por ele. “Foi quando estava na capela do Cemitério São João Batista, com a repórter Isabel Boechart, do jornal O Dia. Ela entrevistou um rapaz que tinha perdido a esposa e a filha de 3 anos, e me pediu para perguntar o nome dele. Perguntei: ‘Amigo, qual o seu nome?’. Ele respondeu: ‘Meu nome? Não sou mais ninguém’. Essa cena marcou demais”, lembra.
Gerson diz que toda pauta que recebe e ensaio fotográfico que realiza mostram sua personalidade. O fotógrafo fala com propriedade sobre seu trabalho. “A fotografia não é apenas uma arte; é um meio de comunicação, no qual posso mostrar o que testemunhei, tanto em fotojornalismo como socialmente, para pessoas com qualquer cultura e classificação social, e também mostro o que gosto ou não. Ela é minha paixão, um pedaço de mim”, atesta.
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