Palavreando - Beira da praia - 26 a 28 de fevereiro 2011

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Eu vejo a vida pela beira da praia. O mar tão imenso e eu tão pequeno do outro lado. Sem que eu chame, a imensidão vem ao meu encontro e eu posso escolher ir ao seu encontro e ser parte dela também ou simplesmente ficar ali só observando.

Pela beira da praia eu vejo o mundo. Pessoas se encontrando e em volta da fogueira prometendo amizade para sempre. Gente descortinando o proibido e no meio de toda a fumaça descobrindo que instantes por apenas instantes não compensam se não tatuam a alma, se não inspiram os átomos. Uma roda, um violão e todos cantando a vida na mesma música em diferentes tons, mas ninguém percebe o mesmo. Aquele pula as ondas, outro medita, esse dorme. Há o que surfa, há também o que corre. O que enfrenta, o que simplesmente passeia, joga, sonha, pensa, vive. De uma maneira ou de outra, todos vivem. Um ama, outro procura, aquele rejeita, esse se esconde e perde ao deixar de ver a maravilha que é o mundo.

Pela beira da praia eu vejo o universo. Recorto nuvens do céu e transformo em desenhos. Um arco-íris circula o sol e do centro do sol imagino toda a via-láctea. A lua se esconde, mas volto para olhá-la. Pergunto se existe vida fora da terra e na imensidão do mar que reflete o céu, duvido que não. As estrelas são como fogos de artifício ao contrário, soltam das nebulosas do sem fim para explodir na terra. São tantas estrelas, grandes, pequenas, minúsculas que de tão miúdas parecem um amontoado de poeira. Poeira de estrelas. E cada grupo de pessoas é uma galáxia e no planeta de cada olho todos se apaixonam por pelo menos um, ao mínimo uma vez.

Pela beira da praia eu vejo a criação através da borboleta amarela e azul que me visita. Ela me convida a brincar com as baratas das grutas cujos morcegos dormem. Vaga-lumes iluminam a noite e o macaco serelepe salta de galho em galho para chamar atenção. A água do rio corre para o mar. O confronto é desigual, mas harmônico. As pedras protegem a terra e alertam que não é para sempre que serão beira da praia. O homem abre trilhas entre as árvores que, auxiliadas pelo vento, disputam com o mar quem faz a melhor sinfonia. Os pássaros roubam a cena e nos desafiam a voar. E voamos nas cores, aquarelas, poemas e canções. Saudamos todas as formas de artes, desde os quadros nas paredes a um simples aperto de mão; do flerte bem dado ao mal executado; da conversa que se faz do cotidiano à conversa que se entende no silêncio da beira da praia, no precipício da imensidão.

Pela beira da praia eu vejo o tempo. As sombras vão mudando de lugar conforme a terra gira em torno do sol. Ainda que não seja possível precisar a hora, a noite vai invadindo o dia e o dia a noite, num ciclo de estações que possibilitam o fruto germinar, madurar, semear e apodrecer. E tudo muda todo dia, é o que se escreve na beira da praia. O tempo passa, foge pelas areias que flutuam entre pés que a marcam e logo se apagam. Se não há testemunhas, aquela pegada não será biografada e ainda que se tenha história, nem toda história vira história.

Eu vejo a vida pela beira da praia. O mundo grande pra se conhecer, mas pequeno pra se amar; o universo em constante expansão; a criação mortal como o tempo finito e sempre escasso pra se conhecer todo o mar.

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