Este é um assunto polêmico e com inúmeras controvérsias, que tem causado muitos debates (não se chegando a um denominador comum, ou seja, uma pauta que nos convença da real necessidade de cotas para negros, índios, pessoas com certas necessidades especiais e alunos provenientes do ensino público). O que querem os defensores das “cotas universitárias” é saldar uma dívida da nação com as referidas categorias de “excluídos”, pois destinando-os às cotas estudantis ficarão em paz com a sua consciência, por parecerem estar incluindo-os na sociedade, mas é o contrário: estão subestimando a inteligência e a competência de cada cidadão beneficiado pelo sistema de cotas. Não existem, no Brasil, lei e nem edital de vestibular que discriminem qualquer pessoa – seja lá de que cor de pele, raça, classe econômica ou, ainda, portadora de certas necessidades especiais – impedindo-a de ingressar em faculdades. Cotas são ilusão, alienação das referidas parcelas da sociedade. Como podemos comparar o desempenho universitário de um aluno bem preparado, que sempre obteve boas notas e portador de um grau de conhecimento bastante elevado, com o de um aluno que só se matriculou em uma faculdade porque foi beneficiado pela porcentagem de vagas destinadas às cotas, se este aluno último não tem conhecimento para entender o conteúdo ministrado em sala de aula, pois, talvez, sua mente ainda esteja fechada para discernir o que lhe é proposto no mundo acadêmico? É o que chamo de exclusão e ilusão, pois o aluno (não absorvendo o conhecimento) ficará à margem do saber armazenado pelos seus colegas, podendo causar desistência do curso ou grande dificuldade para o término do mesmo, concluindo-o com conhecimento restrito, o que dificultará sua vida profissional, marginalizando-o, excluindo-o mais uma vez. O sistema de cotas nada mais é que exclusão camuflada, contribuição cada vez maior para um ensino de má qualidade, ocasionando um desinteresse dos alunos pelas aulas (ficando os professores sem saber o que fazer com o desnível de conhecimento em sala de aula). Se o conteúdo for elevado ao nível dos bem preparados, os cotistas ficarão “perdidos” em sua assimilação de saber; por outro lado, se os professores reduzirem o nível do conhecimento em suas aulas, os demais alunos (não cotistas) ficarão prejudicados. A necessidade é oferecer uma educação de qualidade para todos. Os negros, os índios, os portadores de certas necessidades especiais e os alunos provenientes do ensino público não são menos inteligentes ou menos competentes; o que lhes falta é oportunidade de competição de igual para igual, após um ensino que Ihes proporcione condições equivalentes. Não é com mais um erro que se deve tentar resolver um problema crônico de educação, fruto do descaso dos governos brasileiros. O ensino brasileiro já está deficitário; não raramente forma profissionais despreparados, o que acarreta falta de competência demonstrada nas seleções para o ingresso no trabalho, pois emprego existe (o que falta é pessoal bem preparado). Se o ensino brasileiro está em caos, com o sistema de cotas será seu naufrágio total. É preciso oferecer um ensino de qualidade e igualdade de oportunidades aos estudantes e não amenizar um problema criando outro mais grave (gerando uma crise social por falta de profissionais competentes, que são iludidos com o “tão almejado” diploma universitário). O alerta: não é criando vagas nas faculdades com cotas universitárias, e sim oferecendo ensino que capacite o cidadão para competir no mercado de trabalho que se poderá resgatar a dívida com os denominados “excluídos”.
(*) – Professora universitária, escritora e acadêmica.
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