Espaço de Leitura - Sob as verdes folhas - 31 de dezembro de 2010 a 3 de janeiro de 2011.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Certo dia, tive um sonho. Um sonho fantástico. Sonhei que as crianças que brincando inventavam versos, cantigas e parlendas, no pátio da escola, haviam se transformado e pequenas flores, mais precisamente em humildes violetas. Ficavam escondidas debaixo das folhas e as pessoas poderosas que passavam afirmavam que não existiam. Não me conformava com esta afirmação, ainda mais quando proferida por mestres preparados para se entenderem com seus discípulos. As violetas existem sim!!! Se assim não fosse, de onde surgem tantas vozes a perceber, cantar e contar o que existe no mundo a nossa volta?

Mais uma vez procuro violetas. A certeza de que elas existem me fez acordar no meio da noite, traçar planos para encontrá-las. Pela manhã, um tanto mal dormida, trilhei vários caminhos atenta e curiosa. Quando me perguntavam aonde eu ia, respondia segura – buscar violetas!

O distraído achou normal a procura e deve ter pensado em enfeite, presente ou banalidade. O atento deve ter estranhado o fato pela explicitação veemente – buscar violetas –, sabendo que se não as encontrasse, bem poderia substituí-las por rosas, cravos, lírios, flores nobres.

E eu, mais uma vez, insisto – procuro violetas!

Os que comigo convivem e conhecem minha casa, devem imaginar que penso em me afogar entre roxos, brancos, rosas... das violetas, pois já são tantas!... E eu procurando violetas!

Talvez alguns de vocês entendam, porque são daqueles que exercem sempre a eterna procura. Outros, porque viajam pela memória e sensibilidade, reconhecem a violeta que procuro. Quem brincou em jardim simples, humilde – diferente daqueles adubados com produtos de loja especializada –, um jardinzinho, simplinho, onde as plantas nascem sem ensinamentos, a terra é regada pelo orvalho ou pelo carinho do dono; quem brincou neste jardim já sabe do que falo e me ajudará a encontrá-las.

As violetas que desejo intensamente são pequeninas, vivem escondidas, crescem embaixo das suas verdes folhas, possuem poucas e pequenas pétalas, são cheirosas, enfeitam a vida e a morte, muitas vezes se desconhecem, mas eu sei que existem, sei que podem crescer, sei que são flor!

Quem as encontrar, por favor, cuide delas e me avise!...

Dedico este texto a todos aqueles que sabem reconhecer, ouvir e dar vez e voz aos leitores do mundo, leitores de todos os textos que o mundo apresenta.

Nelly Duffles é professora de Língua/Literatura em língua portuguesa e especialista em Leitura/PUC-Rio.

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