De uma gripe a uma ideia: uma estratégia pedagógica
Quando me lembro da gripe suína no Rio de Janeiro em 2009, só uma boa memória me vem à cabeça.
Um ano letivo conturbado, com novas gestões municipais, e uma gripe chamada “suína” atrasaram o início do período letivo e, com isso, não mais se podia suspender aulas para a formação continuada dos professores.
Como dar apoio pedagógico aos professores sem tempo para me reunir com eles? Foi meu primeiro desafio.
Mas eu tinha que realizar o trabalho para o qual fui convidada. O que fazer? Devia ser rápida e criativa. Fazer algo prático, simples e prazeroso para que o professor pudesse aproveitar ao máximo as práticas com a leitura, num mínimo espaço de tempo.
Entende-se aqui por prática leitora uma atividade pedagógica que apresente um livro ou um texto, que provoque a curiosidade do aluno; desperte desejos, sentimentos, emoções; crie uma relação de afeto entre alunos e professores; estimule diálogos e a convivência, e que seja uma prática transformadora.
Foi aí que criei o Vapt Vupt, um projeto cuja vantagem estava em os professores receberem o apoio pedagógico juntos, ao mesmo tempo, sem sair do seu ambiente de trabalho, em um curto espaço de tempo.
Eu chegava à escola de surpresa e solicitava que a diretora organizasse uma atividade em que os alunos pudessem ficar com outros responsáveis, durante 20 a 25 minutos. A diretora convidava os professores sem justificar. Já na sala dos professores, eu começava a fazer uma prática com um livro bem instigante. A princípio eles desconfiavam, mas logo começavam a curtir e a interagir comigo. Riam muito e adoravam!
O fator surpresa era o grande “pulo do gato”. Pegar os professores sem aviso prévio fazia com que eles chegassem desarmados e curiosos, um passo importante para sua atenção.
Os professores gostavam tanto que pediam para continuar mais um pouco, e eu, com a sensação de missão cumprida, deixava-os com gostinho de quero mais. E voltava outras vezes.
Ao final do ano, recebi os mais positivos depoimentos. Os professores tinham aprendido a dinamizar acervos e a estimular a leitura de um livro com práticas mais simples, fáceis e prazerosas. Sentiram-se mais seguros e estimulados. Como desdobramento, o fato de ouvirem as sugestões juntos e ao mesmo tempo criou uma relação definitiva com o comprometimento, cumplicidade e com a responsabilidade, por conseguinte, com o máximo de aproveitamento.
Eu não imaginava que a gripe suína pudesse me trazer tantos prazeres!
Maria Helena Ribeiro, pedagoga, promotora de leitura, pesquisadora da Cátedra Unesco de Leitura e foi Coordenadora Geral Pedagógica do Leia Brasil – Programa de Leitura Petrobras, quando criou a ideia relatada e vivenciou essa prática.
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