Com o verão, manter a hidratação do corpo é fundamental
Muito se tem falado sobre a importância da água para o organismo, que se deve tomar dois litros de água por dia e até horários específicos para beber água. A verdade é que todos os órgãos - e o corpo inteiro, por extensão - funcionam melhor com a ingestão regular de água. Para saber como proceder quanto à água no organismo, o caderno Light ouviu a médica nefrologista Gelsie Sorrentino Ennes.
LIGHT – Qual a importância da água para o nosso organismo?
Dra. Gelsie ENNES – A água é um elemento vital para nós. Tanto que em torno de 70% da composição do corpo humano é de água. Ela faz com que os nutrientes sejam oferecidos para todas as células e, ao mesmo tempo em que ela leva esses nutrientes para as células, recolhe os produtos que não servem, como as toxinas produzidas para degradação de alimentos. Ela tem a função de tanto levar nutrientes como de retirar impurezas do corpo. Quando essa água, carregada dessas impurezas, vai ao rim, ele filtra tudo isso e sai na urina.
LIGHT – A água também tem outras funções...
Dra. Gelsie – Sim. Veja: a pele, por exemplo, na pessoa que não bebe água, fica seca; e o cabelo, quebradiço. No pulmão, o fluido das vias aéreas superiores precisa estar hidratado, até como mecanismo de defesa. É preciso estar com fluidez nas vias respiratórias para tossir e colocar a secreção para fora. O ressecamento, quando a pessoa não ingere muito líquido, pode trazer doenças. Passamos por um período de estiagem grande em Friburgo e isso provoca infecção das vias aéreas, provoca alergias, por causa do ressecamento, por falta de água. Não chovia, a umidade estava baixa e a água é importante para isto também. No intestino, quem não bebe água fica com as fezes ressecadas e não elimina as toxinas que deveria eliminar. A pessoa que não bebe água tem intestino preso, pele seca, pouca saliva. A água é importante para praticamente tudo, até para as articulações.
LIGHT – E com relação aos rins?
Dra. Gelsie – A principal função da água no organismo é renal. Ela é vital para o funcionamento dos rins. O rim recebe um volume sanguíneo muito alto. Ele é todo formado por pequenos vasos, que fazem a filtração, e fica circundado em líquido.
LIGHT – A água é importante para o sangue também...
Dra. Gelsie – Sim, porque na composição do sangue a maioria é de água. Hoje se sabe que podemos ficar sem água no máximo de três a cinco dias, e sem comida, num prazo muito maior, até 30 dias. Isso reforça que a água é vital para nossa sobrevivência. Sem água, o organismo realmente para de funcionar, o rim deixa de funcionar e com isso se retém muita toxina.
LIGHT – O que a pessoa deve fazer para manter o nível de água no corpo?
Dra. Gelsie – O importante é que a gente nunca fique com sede, porque sede é um marcador de desidratação. Quem está com sede é porque está desidratado.
LIGHT – Então a pessoa deve tomar água mesmo sem sede?
Dra. Gelsie – Nós devemos levar em consideração outros fatores, mas a pessoa que sente sede é porque está desidratada e tem que aumentar a quantidade de água. A quantidade de água que a pessoa tem que ingerir, em média, é de um litro e meio a dois litros, em condições normais. Um paciente que tem pedra no rim a orientação é que até tome mais. É preciso dividir durante o dia. Não adianta tomar tudo de uma vez só, e não tomar mais o dia inteiro, e à noite tomar de novo. Isso não soluciona, porque o estômago tem uma capacidade reduzida de armazenamento e absorção. Se a pessoa distende muito o estômago, vai ter náuseas e vômito. Água em grande volume realmente dá enjôo. Então a água tem que ser tomada ao longo do tempo.
LIGHT – E as pessoas que não gostam de beber água?
Dra. Gelsie – É muito comum esse tipo de queixa. Normalmente o paciente idoso tem mais dificuldade em beber e absorver água. São os extremos: tanto a criança quanto o idoso desidratam muito fácil. Ou correm, têm uma diarreia, tomam muito sol e os dois desidratam muito rápido. E são exatamente esses doentes que perdem a vontade de beber água.
LIGHT – E qual é a orientação?
Dra. Gelsie – A gente orienta, nesta situação especial, quando a pessoa tem intolerância à água, valem também chá, suco, frutas com alto teor de água, como, por exemplo, melancia, melão, pera, água de coco. Só não vale refrigerante, porque tem muita caloria.
LIGHT – Como a pessoa percebe que está bebendo pouca água?
Dra. Gelsie – A urina logo fica escura. Porque o rim vai fazer tudo para preservar a água do corpo, vai concentrar a urina toda e a pessoa vai urinar pouco. A urina fica com uma cor amarelo escuro. Isso é sinal de que o rim está tendo que concentrar muito a urina para manter o volume de água dentro da normalidade. A cor da urina deve ter um tom amarelo claro. A urina muito branca também demonstra uma doença renal, porque as toxinas que a urina elimina a faz ficar com a cor característica. O ideal de hidratação é que a urina fique no tom amarelo claro.
LIGHT – É preciso manter o equilíbrio.
Dra. Gelsie – O equilíbrio é individual. Cada um tem seu equilíbrio, que deve controlar desta forma: não sentir sede e a urina deve ficar na coloração amarelo claro. Deve tomar de litro e meio a dois litros de água em situação normal. Se a pessoa é atleta, corre no sol, a hidratação tem que aumentar, porque ela está perdendo água por outras fontes que não seja o rim, está suando muito, está perdendo água pela transpiração. Certamente essa pessoa tem que tomar mais de dois litros. Se a pessoa está com febre também tem que aumentar. Febre faz a pessoa suar e ela tem que aumentar a hidratação para repor a água do corpo.
LIGHT – Como uma pessoa sabe que está iniciando um processo de desidratação?
Dra. Gelsie – Logo vem a sede. A primeira coisa que a pessoa vai sentir é sede, fica com a boca seca, ressecamento. Nas desidratações agudas, tem diarreia. Agora, no verão, começa a aumentar muito a incidência de cálculos nos rins, porque a pessoa come churrasco, joga futebol no sol, que são dois fatores potenciais para cálculos. São situações, de acordo com a época do ano, em que se tem que ficar mais atento com a quantidade de água a ser ingerida.
LIGHT – Num quadro de desidratação, basta a pessoa ingerir mais água ou precisa de orientação médica?
Dra. Gelsie – A desidratação tem graus. Na desidratação leve se consegue resolver só com hidratação oral. Mas, nas desidratações mais graves, se a pessoa deixa de fazer xixi, há de se tratar rigorosamente, para preservar o rim, para que ele possa funcionar normalmente. Realmente a desidratação precisa de avaliação médica.
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