Ah! A vida! Essa fantástica fábrica de coisas boas. Meus professores nunca gostaram que eu usasse a palavra coisa, mas afinal que palavra é melhor para explicar tudo, especialmente aquelas que significam tantas coisas ao mesmo tempo. Tá vendo? Coisas de novo se intrometendo nas minhas reflexões. Se pudesse inventar uma palavra para expressar esses sentimentos bons advindos dessa fantástica fábrica... Vamos deixar coisas mesmo.
Mas voltando a essa fantástica fábrica que nunca produz peças exatamente iguais... É! É verdade! Não podemos chamá-la de fantástica fábrica... Talvez de ateliê, galeria, porão, sótão ou qualquer lugar que se produza arte, a arte inimitável... Usei fábrica apenas pela grandeza do nome. Bem, nesse fantástico ateliê que é a vida em que a própria vida se produz, sonhamos e realizamos tanto, colhemos e somos colhidos de forma que juntos somos felizes, tristes e todos os extremos possíveis, mas sempre vivos e vívidos produzindo telas e esculturas que não podem ser copiadas e que, por mais que possam parecer semelhantes, nunca são exatamente iguais.
Como você sabe, na vida nada se repete e nenhum momento é igual a outro, como nenhuma relação será como a outra. Por isso, essas formas únicas que cada coisa tem nos fascinam e por nos fascinar é que chamamos de fantástica.
Para ser fantástico, não precisa ser mágico, nem programa de TV. Precisa ser apenas verdade repleta de reciprocidade e entrega. Como sorrir de nada e gargalhar até chorar da piada mal contada. Como ouvir com gosto a música mal cantada, mas ouvir atento tudo que o amigo diz, ainda que não diga coisa com coisa, ainda que não diga nada. Como vê-lo dançar com passos reprováveis, mas que vão no ritmo do que realmente importa, sem provar nada a ninguém, afinal ninguém aqui está concorrendo em reality show. Como ver aquela timidez desaparecer após mais uma madrugada adentro. Como saber que atrás de toda a armadura existe alguém que você ama por que não faz questão de ser popular, apenas está e estará lá, para aqueles que realmente se importam. E como é bom estar nesta lista. Como desvendar, sem exatamente decifrar os enigmas por detrás da pintura singular dos olhos. Como rasgar a brutalidade num abraço apertado. Como ser feliz em todos os lados do antagonismo. Como apaixonado, compreender que mesmo não sendo a combinação mais adequada de cores, ainda sim é bonita e o que lhe garante isso é a fé. Fé em quem ama, fé nas pessoas, fé na vida! Isto é verdade! A fé nos une, nos comove e nos faz devotar todo o tempo do mundo às nossas artes e os arteiros que dividimos e dividem seus ateliês conosco. E são poucos os arteiros que se juntam na arte de buscar a felicidade que não é apenas uma promessa, mas um acontecimento a cada instante, a cada nova arte, a cada momento juntos.
Assim, nesse ateliê de coisas, encontramos e reencontramos pessoas que são cheias de coisas que amamos e odiamos e acabamos por amar até o que odiamos. E pedimos para que elas fiquem e elas ficam com suas coisas que se juntam às nossas coisas e então o que nasce são belas obras de arte, constatadas em fotografias e muitas outras, a maioria delas sem qualquer registro material... Longe de serem mais importantes do que as captadas por qualquer tecnologia. Porque assim como nenhuma tecnologia substitui a arte, nada substituiu todas aquelas coisas que se somam à alma.
Assim as pessoas que chamo são coisas que amo, as pessoas que atendo ao chamado são coisas que amo e me tornam mais feliz, mais vivo. Cada coisa que faço com esses poucos e bons arteiros que fabricam comigo a história que conto e que ficam expostas no ateliê de nossas almas, todas as artes que podemos confeccionar e carregar pra além da eternidade são coisas que me tornam mais intensas e me fazem ser um intrépido colecionador de coisas que não esqueço e que nos alçam aos céus.
Deixe o seu comentário