Palavreando - Invenções poéticas - 23 a 25 de outubro.

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Há duas formas de encarar a vida. Uma é achar que se pode fazer poesia de tudo, a outra é acreditar que todas as coisas já são poéticas por si só. E a vida pode ser mais fácil ou mais difícil. Os dias podem ser mais bonitos ou mais feios. Tudo é uma forma de interpretação. Tudo depende do seu ponto de vista de modo que toda moeda tem dois lados, sem que necessariamente sejam extremos, mas nunca exatamente iguais. Não há nada igual, nem uma lágrima, tampouco um sorriso. O motivo do choro ou da risada pode ser o mesmo, mas cada um tem seu próprio jeito de chorar e de sorrir e ainda sim o choro e o sorriso de ontem jamais se repetirá, ainda que perante a mesma situação. Cada momento é único, cada condição é um milagre e milagres acontecem uma só vez.

O sol que pesa nas costas de um pode ser alívio para outro. A chuva que castiga pode ser benção para quem vive da terra. O vento que incomoda também pode ser refresco. A pressa que cansa pode ser a necessidade de quem precisa chegar rápido a algum lugar. Assim, o que é bom para um pode não ser bom para o outro, o que um necessita pode não ser a mesma necessidade do outro, o que um deseja não é o mesmo desejo do outro, e é preciso respeitar essas individualidades, o momento de cada qual, sendo essa exclusividade que torna o mundo tão poético e o ser - humano tão intrigante.

Há poesia em todos os lugares, há versos em todos os olhos que almejam coisas diferentes, mas a poesia, para ser poesia, independe de enredo. Tudo é poético, até a tristeza e a melancolia. A felicidade e a nostalgia. A esperança e a incerteza também. Agora, se tudo não passa de invenções poéticas, quem inventou a poesia e quem tratou de esquecê-la?

A vida tem passado pela gente e a gente pela poesia sem perceber as rimas que os dias nos presenteiam. Não é preciso decorar estrofes, tampouco memorizar frases feitas. Mas seria grandioso perceber. Perceber que o tempo não para pra ninguém e que na sua jornada que nos engole e nos envelhece a vida acontece de um jeito ou de outro. Sempre acompanhada de poesia oculta que insiste para ser vista. É a poesia que torna a vida mais aprazível e também mais dolorosa, mas nunca indiferente. Sempre intensa.

Somos tão seguros que nos esquecemos de tirar os pés do chão. Somos tão medrosos que estancamos na paralisia de estar e ficar, quando podemos ir. Podemos voar... Basta deixar as asas da poesia nos conduzir. Não, não, as asas da poesia não nos levarão à “Terra do Nunca” ou a mundos incríveis e inventados em livros e contos, mas nos farão enxergar toda a maravilha que é este mundo aqui, todas as mágicas que estão aqui, ao nosso alcance, ao nosso redor, nos braços das outras pessoas, nos afagos que nos dispensam e nos inquietam. A poesia faz isso, faz a gente mudar de estado, do sólido para o gasoso, do gasoso para o líquido, do grão para a montanha, da montanha para o invisível, poeira mágica... Afinal, há duas formas de encarar a vida. Uma é achar que se pode fazer poesia de tudo, a outra é acreditar que todas as coisas já são poéticas por si só.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade