Fábio Assunção: “Depois de tudo que passei, acho que estou um homem bem mais interessante hoje”
Ainda em recuperação da dependência química, um novo Fábio Assunção volta à vida e ao trabalho, figurando entre os homens mais cobiçados, caros, difíceis e requisitados do meio artístico brasileiro. Aos 39 anos, o ator completa em outubro 20 anos de carreira e comemora sua volta na nova trama global, que tem como nome provisório Insensato Coração, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, prevista para substituir Passione, em janeiro de 2011. “A novela gira em torno da relação de afeto, da importância da família, dessa união. O Fábio será um vilão, empresário, que busca justamente desgraçar esse núcleo. Ele vai viver um romance com Glória Pires, vai ser uma relação de amor e ódio”, adianta Linhares.
Fábio Assunção já trabalhou como vilão para Gilberto Braga em 2003, quando foi o inescrupuloso Renato Mendes, em Celebridade. Será também a segunda vez que fará par romântico com Glória Pires. A primeira foi em 1996, quando os dois interpretaram Marcos e Rafaela em O Rei do Gado. Seu novo personagem é um exímio vilão. Entre as vigarices, tem como um de seus objetivos por fim ao romance do irmão (Eriberto Leão) com a namorada (Ana Paula Arósio). Com ajuda da prima (Fernanda Paes Leme), será capaz de realizar atrocidades, como drogar o próprio o irmão, fazendo com que a prima engravide dele.
Criterioso, o ator soube administrar bem suas escolhas profissionais ao longo de sua recuperação, mas nem por isso teria aceitado papéis fáceis. Os convites a este “novo” Fábio dobraram de volume e de cachê. Mais assediado do que nunca, a Globo esclareceu que renovou seu altíssimo contrato por mais cinco anos e, assim, sutilmente, o inclui num seleto grupo de atores, que já escolhem as obras e novelistas para atuar. Maria Adelaide Amaral, autora de Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, que o diga! Ela teve o privilégio de ver sua obra marcada pela volta do artista nas telinhas: “Mesmo com os riscos, a gente sabia que ele teria sensibilidade para personificar o Herivelto de forma esplêndida, como foi. E ele fez. Ao contrário do que muitos pensam, ele amadureceu para trabalhar melhor e enriqueceu como ser humano. Não consegui incluí-lo em Ti-Ti-Ti, mas foi o escolhido para fazer o Jacques Leclair. Só que, quando fiz o convite, o Gilberto Braga já havia feito um anterior, então o perdi”, revela a autora.
Desde Dalva e Herivelto o ator tem se dedicado ao cinema. Ele mostrou que está ainda melhor depois de passar por uma maratona rígida de filmagens em Recife e Ouro Preto, entre abril e junho deste ano, para o filme O País do Desejo, de Paulo Caldas. Fábio vive na trama um padre que se apaixona por uma pianista (Maria Padilha), que sofre de uma grave doença. A paixão dos dois levanta um debate ético entre a igreja e a sociedade. Foram mais de 30 dias acordando exemplarmente às 5h30 para gravar e, nas horas vagas, tocava piano, instrumento de seu personagem na história. Já neste semestre, esteve em agosto na pré-estreia de outro filme, Belline e o Demônio, baseado no livro do músico Tony Bellotto, que também assina o roteiro. A esposa do músico, Malu Mader, prestigiou o evento, que rolou na zona sul do Rio de Janeiro, e falou sobre o que achou da atuação de Fábio: “Fiquei impressionada com o trabalho dele e a forma como ele atua. Tomara que as coisas continuem acontecendo para ele, que é, sem dúvida, um dos maiores atores que temos hoje”.
Nos bastidores, o novo Fábio está mais maduro e cauteloso. Agora quer dirigir seu próprio filme, que idealiza fazer em 2012. Há cinco anos ele vive ao lado da namorada Karina Tavares, numa relação de idas e vindas, com quem divide um apartamento na Vila Nova Conceição, em São Paulo. Os dois aguardam uma casa de quatro quartos ficar pronta, nos Jardins. Karina trabalha com fotografia e, volta e meia, tem o ator como protagonista de suas lentes. “Ela é minha fotógrafa predileta. Foto com direito a muito flerte”, brinca o galã, que cuida da forma correndo e caminhando ao menos três vezes por semana, se a agenda permitir. Quando não está ao lado do filho João, de 7 anos, fruto do relacionamento com a empresária Priscila Borgonovi, o artista prefere permanecer em meio à arte, indo sempre a teatros, cinemas, livrarias e restaurantes. Ao sair à noite, passou a aceitar somente água, suco de laranja e refrigerante.
Sobre o que passou, Fábio se limita a dizer que não fala mais de sua vida pessoal e considera que tudo será apenas detalhe, que ficará em algum lugar, perdido no tempo e no espaço de anos de dedicação e amor pela profissão, à qual se diz verdadeiramente apaixonado.
Como está sendo este momento de retornar a uma novela?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Estou bastante empolgado e feliz por completar 20 anos de carreira junto com a novela. Eu nunca parei, e por isso acostumei a dizer, desde então, que a vida está sempre andando, correndo, a gente não para. O que fiz foi receber muitos convites e avaliar com carinho os trabalhos em que deveria mergulhar. Estou feliz por retomar o contato com o público e espero fazer um bom trabalho.
Você não parou, mas teve que tirar uma licença da emissora quando anunciou que entraria em tratamento...
FÁBIO ASSUNÇÃO - Deixa eu explicar melhor essa coisa de parar e voltar: na verdade, eu não parei, não voltei! A gente sempre vai em linha reta (risos). Eu continuo minha caminhada e minha trajetória. Eu não estou voltando de lugar nenhum. Eu estou indo! Estamos todos indo para algum lugar...
Certo! Mas por que você decidiu, não “voltar”, mas retomar à sua carreira logo com Dalva e Herivelto?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Naquela época chegaram até mim alguns roteiros. Recebi convites para fazer duas peças, uma em São Paulo e outra aqui no Rio, e me chamaram também para duas minisséries. Pensei longamente sobre todas as propostas. Mas, no caso desta, para viver o Herivelto, decidi na hora. Foi uma questão de afinidade com o trabalho e com as pessoas que estavam envolvidas na obra.
É o caso do diretor Dennis Carvalho, por exemplo?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Sim, o primeiro trabalho que fiz com ele foi em 1994 (a novela Pátria Minha). Ele é um cara em quem confio e com quem tenho cumplicidade. Tem sido muito bom, porque estou com amigos, entende? Além do Dennis, tem a Adriana Esteves, que é minha comadre, madrinha do meu filho João. Estava também com a Maria Adelaide Amaral (a autora), com quem me relaciono muito bem desde Os Maias (minissérie global de 2001). São pessoas que adoro.
Como será este novo personagem agora? Um vilão?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Ainda não sei quase nada do personagem, preciso aguardar mais, para falar melhor, mas até onde sei ele será muito pior que o último que fiz, o Renato Mendes, de Celebridade.
Você tem se dedicado bastante ao cinema também, não é? Como foi fazer Bellini e o Demônio?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Já havia feito o primeiro filme, Bellini e a Esfinge, em 2001. Mas neste o detetive Remo Bellini é completamente diferente do outro. Não tem nada parecido com o primeiro. Quem sabe eu não faço o terceiro Bellini do livro do Tony e completo a trilogia. Essa segunda obra vai de frente com rituais, seitas satânicas e assassinatos brutais. Mesmo falando de demônio, eu gostaria que o filme fosse bem recebido por todos.
O tema sombrio acabou criando em você alguma superstição?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Olha, como estou acostumado a fazer qualquer tipo de trabalho, encarei esta obra como uma ficção mesmo. Não chegou nesse nível de superstição, mas, sem dúvida, é um personagem que exigiu entrar em lugares do meu mundo subjetivo e inconsciente que ainda não tinha explorado e desconhecia.
Você também filmou O País do Desejo. Como foi?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Gravamos em Ouro Preto e Recife, e a temática do filme aborda um fator muito interessante, que é o debate ético dentro da igreja. Estive ao lado de Maria Padilha nesta obra, que conta a história de um padre, o José, meu personagem, que se vê envolto de problemas ao defender o aborto de uma menina grávida de gêmeos, vítima de violência sexual, e quando se apaixona por uma musicista doente dos rins. Existirá aí uma dissonância entre o que as pessoas estão vivendo hoje, inclusive os próprios padres, e esse lado mais conservador da igreja, que, sem dúvida, está passando por uma crise.
É verdade que o cinema despertou em você a vontade de dirigir sua própria obra? Você pensa mesmo em dirigir um filme?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Sim, e me dei conta disso ao longo das gravações, em Pernambuco. Descobri que, através do cinema, teria uma possibilidade maior e mais criativa de dizer o que sinto e as maneiras como posso me expressar. Penso que tenho a oportunidade de ultrapassar algumas barreiras como intérprete e adquirir uma experiência maior, escrevendo e dirigindo. Eu conseguiria, com isso, mais controle e uma forma mais convicta de atingir o ponto de vista que eu quisesse expressar.
Mas, como todos esses planos ficam com a escalação para a novela?
FÁBIO ASSUNÇÃO - Eu preciso esperar acabar a novela do Gilberto, que começo a gravar em outubro. Aí sim, vou mergulhar no roteiro, para depois fazer a captação de recursos, dando, com isso, viabilidade às filmagens do projeto, que poderia acontecer no início de 2012.
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