Palavreando - 24 a 26 de julho.

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 23 de julho de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Olha quem está crescendo

O tempo passa tão veloz quanto o pensamento. Corre pelos dias como se quisesse escapar das horas. Não chega a ser um fugitivo, mas escapa pelas mãos se não estivermos atentos. E atento olho aquela pequena criatura de olhos azuis que há bem pouco tive pela primeira vez nos braços. Mal se percebia a cor de seus belos olhos, mas desde os primeiros dias sorria o sorriso banguela mais feliz do mundo.

Não pela ligação sanguínea, não pela relação íntima, mas talvez por algo que não se explica ou exemplifica, coisa de alma... Me apaixonei desde a primeira vez que o vi e me apaixonei ainda mais a cada nova surpresa, a cada aprendizado, a cada novidade de cada dia. Meu arteiro e doce Miguel!

É! Meu bebê está crescendo! Tão rápido que parece que espicha um pouquinho mais diariamente. Se continuar assim será um gigante, um homem muito alto... Jogador de vôlei, basquete ou um daqueles goleiros que ao abrir os braços encosta nas duas traves. Passará o dindo, os tios, a mamãe e o papai.

É esperto, sagaz e apesar de ainda não falar, murmura palavras que encantam e trazem paz. É o beijo babado mais gostoso do mundo. Rejuvenesce, amolece o coração, elimina o estresse e acaba com a irritação. É remédio para a alma! É também a mãozinha mais argumentativa de todas. Nos leva para todos os lados e aponta todos os caminhos que nos impede a negativa, não dá para deixar de ir e levá-lo aonde quer ir. Tem também as suas manias. Sabe fazer nervozinho. Enruga a face, fecha as sobrancelhas louras, quase invisíveis, eleva as mãozinhas com os punhos fechados e entorpece todos com seu jeito artista de ser. Aprendeu rápido a fazer pirraça. É sentimental. O ‘não’ lhe magoa, mas logo ele se recupera e já está correndo para todos os cantos, por todos os lados, pedindo colo e abraço, fazendo bagunça e mais bagunça até começar a tropeçar e, bêbado de sono, cair na cama, esparramado, como se precisasse de uma cama king para seus cinquenta e poucos centímetros.

É fantástico ser recebido por ele na porta com o abraço mais verdadeiro de todos e é cruel se despedir daqueles olhos que lhe pedem para ficar e brincar mais um pouquinho. O seu tchau é como se fosse o gesto contrário, chamando para entrar e ficar mais um tempo, esquecendo do tempo e sendo absolutamente feliz, sem necessitar de nada mais.

As crianças têm o dom de nos fazer voltar a ser criança e experimentar de novo o privilégio de ser agora. Porque quando estamos com uma criança, um bebê, estamos ali entregues, vivendo o agora com a intensidade que o presente pede. Despreocupados com tudo que acontece lá fora, se permitindo apenas proteger aquela vidinha que começa a despertar para o mundo e que acaba por nos despertar para todas as coisas que são realmente importantes.

E por menos tempo que eu tenha estado com ele, bate no peito uma saudade saborosa. As fotos me salvam, as lembranças me levam para perto dele, e entre um suspiro e outro vejo a vida vindo ao meu encontro e nem o tempo é capaz de fugir de mim, ainda que veloz corra pelos dias que escapam pelas horas.

Por fim, nem sei se é ele que está crescendo ou se sou eu, ao ponto que nós dois crescemos. Ele de bebê para menino, e eu crescendo para o céu.

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