Palavreando - 12 de junho

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 11 de junho de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Seguir em frente

Nenhum tempo, passado, presente ou futuro pode ser mudado. É preciso, é regra de nossa natureza, seguir em frente. Se pudesse seria quem sou hoje com o que sei hoje ontem e seria hoje o que serei no futuro, ainda que não saiba o que o amanhã me reserva. Prefiro então seguir em frente agora a esperar aquilo que nem sei se vai chegar. Posso amanhã ser melhor ou pior, posso ter mais empecilhos ou menos dificuldades, mas impreterivelmente terei que seguir em frente.

Não sei se estarei sozinho ou acompanhado de alguém, de grandes grupos, o que não me ilude é estar escoltado por multidões. O homem, por mais pares que junte, geralmente é muito sozinho. Crê que será entendido, mas nem sempre é compreendido como gostaria. E sempre sonhamos em ter boas testemunhas de nossa existência e gente que nos apoie para seguir em frente.

Olhar pra trás pode também ser seguir em frente, quando se percebe que algo ficou por fazer. Nada mudará o passado, mas a experiência do que foi pode determinar o que será agora e daqui em diante. Mas é preciso seguir em frente sempre. Não se pode se deixar ser aplacado pelo medo da condenação. O que está feito está feito ainda que o que se perdeu possa ser recuperado. O que se escreveu está escrito ainda que tenhamos o dom de revisar para evoluir.

Não se pode esconder a verdade por muito tempo. A verdade nos acompanha a cada seguir em frente. Assim como com a história que se fez, não há como jogar a verdade fora e dispensá-la no meio do caminho. Pagaremos pelos nossos erros, somaremos pelos nossos acertos e em ambos nos tornaremos mais sabidos.

É preciso estar de bem consigo mesmo para poder estar de bem com o mundo. Às vezes, quero me trancar fora do mundo e jogar a chave fora para nunca mais ter que voltar ao mundo. Porém, toda vez que fujo do mundo, a dor, a tristeza, tudo aquilo que me incomoda, me acompanha. Então, percebo enfim, que não sou eu contra o mundo, mas eu contra mim mesmo. É aí que sei que preciso seguir em frente, sem culpar os outros pelo que não fizeram ou não sentiram. Na vida, não se tem controle de nada, a não ser de nossas próprias atitudes, por isso a gente não tem que esperar a atitude dos outros, apenas as nossas interessam. A resposta às nossas atitudes é que determinarão quem a gente quer levar na vida e quem a gente não quer. Não estamos livres do engano, mas podemos agir com sobriedade em cada seguir em frente.

Até a espera faz parte do seguir em frente. Às vezes é preciso esperar, mas sabendo que o mundo não para, que a vida continua para todos que envelhecem mais, estação após estação. Tem que se ter fé. Aliás, a esperança é o que há de mais precioso no ser humano. Seguimos em frente, repletos pela esperança do amanhã que não é garantido para ninguém, por mais que se esforce e se mereça compensações, não há certezas de que veremos a flor brotar e o fruto nascer. Mas nem por isso, por essa falta de que a promessa de futuro se cumpra, deixamos de trabalhar, de nos achegar aos outros, de amar, de nos entregar, de sonhar, de seguir em frente.

É preciso estar atento para seguir em frente. Atento ao que falamos e fazemos para não magoar as pessoas e também para não se autoflagelar ao ponto de se perder de si mesmo. É importante seguir em frente, mas é mais importante ainda equilibrar razão e coração, desejos e necessidades, o que importa e tem valor, daquilo que não importa tanto e que gera frustração e dor. É preciso se cuidar, cuidar daquilo que a gente venera, mas sempre com o devido equilíbrio que faz com que possamos fincar os pés na terra e a gravidade não nos deixe escapar da atmosfera.

É esse tal equilíbrio tão difícil que quero. O equilíbrio que me faz ver com clareza, sem exageros, sem potencializar aquilo que sequer existe. Ilusões são vagas e sempre vãs. É disso que quero escapulir, dessas angústias advindas de mentiras que contamos pra gente mesmo, dos personagens que vestimos só para ser o que não somos. Até temos o direito de fugir de nós mesmos de vez em quando, mas esse pode ser um vício difícil de largar. Podemos ser felizes sendo a gente mesmo, quem somos com nossos defeitos e qualidades, mas sempre em frente em busca do equilíbrio que nos mantém na corda bamba que é o mundo.

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