Uma história real
Cheguei em casa às sete horas da noite e o telefone tocou. Era meu amigo Pedro:
- João, você tá de carro?
- Tô sim, o que foi?
- Cara, preciso de você. Tem como me encontrar na frente da Rua Portugal?
A julgar pela dramaticidade e o nervosismo da sua voz, meu amigo estava em apuros, mas eu não quis perguntar o que era, fui direto ao seu encontro, imaginando que algo havia acontecido com sua irmã ou com seus pais, imaginando que eu passaria a noite na sala de espera de um hospital ou coisa parecida.
Porém, quando cheguei lá, Pedro entrou sorrindo no carro. Ele disse:
- João, eu tenho que ir para Teresópolis. Eu coloco gasolina.
- O quê?!
- Tô indo atrás do amor da minha vida.
Soltei uma gargalhada, de alívio e surpresa. Por que não levá-lo à Teresópolis? Seria uma aventura e, afinal, “tô indo atrás do amor da minha vida” não é o tipo de coisa que se ouve todo dia.
No caminho, Pedro me contou a história toda: ele e a menina de Teresópolis namoraram por dois anos, terminaram o relacionamento de maneira traumática e passaram quase um ano inteiro sem se falar. Contudo, naquele dia, ela resolveu lhe enviar um e-mail, estava arrependida, lembrava-se dos momentos felizes. Pedro, por sua vez, decidiu ir até a sua casa, olhar em seus olhos e abrir seu coração.
Assim que nós chegamos a Teresópolis, meu amigo ligou para a irmã de sua ex-namorada, para informá-la que ele estava na cidade. Só então percebi como seu plano era arriscado, pois a menina poderia simplesmente não estar em casa. Por sorte, estava. Chegando lá, tocamos o interfone e o portão se abriu.
A casa ficava no alto de um terreno em declive, era preciso subir por uma escadinha de pedra, através do jardim. Mas nós permanecemos no carro, Pedro não sabia o que fazer, muito menos eu. Com a demora, a irmã da garota findou descendo a escada e nos convidou para subir.
Sua ex-namorada o aguardava na varanda da bela casa de madeira. Os dois se olharam e se abraçaram. A irmã então me chamou para dentro da casa. O casal continuou na varanda.
Agora eu estava na sala de estar, junto com a irmã, o namorado da irmã, o irmão, a namorada do irmão e a mãe da menina, todos assistindo a Crepúsculo. Eram pessoas que eu nunca vira na vida, numa casa que eu nunca visitara, numa cidade que eu só então conhecia de passagem. Meus anfitriões foram acolhedores e simpáticos. E o filme era bacana.
Uma hora se passou quando o casal finalmente entrou na sala, sorridente e de mãos dadas. Tudo deu certo. Pedro passaria a noite lá. Ofereceram-me um quarto, que eu recusei. Voltei para Nova Friburgo, com a estrada vazia e a lua cheia. Eu estava sozinho, mas feliz.
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