Brasil: um país livre de (grandes) terremotos

Geólogo do Inea esclarece dúvidas comuns sobre abalos sísmicos e afirma que o país está livre de catástrofes
sexta-feira, 02 de abril de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Por Leonardo Lima

Após tantas tragédias, com milhares de vítimas fatais, fica a dúvida: o Brasil corre risco de sofrer terremotos? E em Nova Friburgo, a população deve se preocupar? Segundo o geólogo Ricardo Silva de Souza, do Instituto Estadual de Ambiente do Rio de Janeiro (Inea-RJ), em relação a grandes tremores não há motivos de preocupação, no entanto, pequenos abalos sísmicos já foram detectados no país. “O Brasil não se localiza na borda de uma placa tectônica, onde ocorre o encontro com outra e ocasiona os terremotos, e sim, no meio dela. Entretanto, existem falhas geológicas que podem gerar alguns tremores, mas que, se sentidos, dificilmente causam algum dano direto”, garante.

Segundo estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram detectadas no país cerca de 50 dessas falhas passíveis de serem ativadas. A maioria se localiza nas regiões Norte e Nordeste e a mais próxima de Nova Friburgo se encontra no leito do Rio Paraíba do Sul, que passa pelos municípios de Barra do Piraí, São Fidélis, Carmo, por exemplo, e segue até o Espírito Santo. “O terremoto que aconteceu no Chile recentemente atingiu 8.8 graus na escala Richter. Em São Paulo foi registrado um tremor de dois graus, reflexo do acontecido no país vizinho. Isso é comparável a quando atiramos uma pedra num lago: onde ela cai, o abalo é muito maior, porém, ondas vão se espalhando até a borda. Por isso não descarto que possam acontecer alguns acidentes indiretos, como deslizamentos de encostas”, diz o geólogo.

De acordo com Ricardo, as áreas de maiores preocupações com grandes catástrofes provenientes de abalos sísmicos na Terra são a Costa Oeste dos EUA, o Japão e o Oriente Médio. “Na Califórnia existe a chamada falha de San Andréas, que tende até a separar a península do continente. Há previsão de que até 2015 ocorra um grande terremoto. No Japão também é alto o índice de abalos, assim como no Oriente Médio, que tem ainda um agravante: em países como Índia, Irã, Paquistão, por exemplo, existem muitas construções antigas e pobres e, portanto, qualquer tremor tende a causar grandes conseqûencias. Foi o que ocorreu no Haiti”, exemplifica.

Em 1968 começaram a ser implantados no Brasil centros de estudos sismológicos; hoje existem cerca de 40. No entanto, a estrutura deles é bastante obsoleta se comparada a outros países. “Pelo fato de o país não correr grandes riscos, não há investimento em pesquisa nessa área. No Japão, por exemplo, há até um treinamento específico para a população em caso de emergência. Além disso, os prédios são construídos com sistemas de amortecimento, de modo a minimizar os efeitos dos tremores e evitar grandes tragédias”, explica Ricardo.

E, afinal: Nova Friburgo se localiza dentro de um vulcão desativado? Segundo Ricardo, isso não passa de lenda. “No trecho do Caledônia até a Pedra do Imperador, em Olaria, a erosão provocou, em uma massa rochosa, o formato estrutural de uma cadeira vulcânica. No entanto, isso se restringe apenas à imagem. Nunca existiu esse vulcão”, garante.

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