Nutrição I
Thereza Freire Vieira (*)
Nutrição é o processo pelo qual os alimentos que ingerimos se tornam parte de nosso organismo e passam a afetar a nossa saúde e desenvolvimento. Os alimentos fazem nosso corpo funcionar. Para um bom condicionamento físico é preciso uma boa alimentação.
Existem seis categorias de nutrientes: proteínas, carbohidratos, gorduras, vitaminas, sais minerais e água.
A PROTEÍNA: É o elemento construtor. Toda célula do organismo necessita de proteína para crescer e se manter, assim como os anticorpos que nos protegem das doenças e as enzimas que são necessárias para a digestão dos alimentos e é importante para constituição de hormônios como a insulina e outros. As proteínas têm função importante na formação da matriz óssea. A hemoglobina é combinação de proteínas e pigmentos.
Em média um adulto precisa de 0,8 a 10g de proteína por quilo de peso. A proteína excedente é estocada como gordura, convertida em glicose (açúcar do sangue) ou queimada para obtenção de energia.
Podemos armazenar alguns nutrientes, mas é impossível estocar proteínas e é por isso que precisamos ingerir proteínas regularmente, pois necessitamos de 45g de proteínas por dia.
As proteínas de origem animal reúnem em um só lugar, todos os aminoácidos de que necessitamos, são encontrados na carne vermelha, frango, peixe, leite e seus derivados.
VITAMINAS: As vitaminas, em sua maioria, provêm da alimentação. Existem 13 vitaminas essenciais e a deficiência de cada uma delas pode ocasionar carências, que determinam doenças graves. As suas propriedades antioxidantes podem ajudar na prevenção do câncer. Os alimentos que comemos habitualmente têm as quantidades necessárias de vitaminas. .
As vitaminas lipossolúveis são armazenadas no corpo, como A, D, E e K.
Os pacientes com deficiência de vitamina D e hiperparatireoidismo têm risco muito alto de osteoporose.
As hidrossolúveis são estocadas no organismo, como a vitamina C e todas as vitaminas do complexo B. Em quantidades excessivas são eliminadas pela urina.
(*) Médica Geriatra e escritora,
colaboradora de jornais e revistas
Castro Alves
O eterno guerreiro
Mario Moraes
É triste mas se juntarmos um grupo de jovens brasileiros e indagarmos se sabem quem foi Castro Alves, a maioria dirá “que já ouvi falar”, e ficam por aí. Talvez haja uma ou outra exceção, mas da obra do fabuloso poeta brasileiro, pouco conhecem. Porque eles consideram isso “coisa do passado”. Eu mesmo, assinando este texto, devo ser considerado um idiota, querendo rever os grandes vultos do nosso passado. Não os culpo porque, no mundo em que estamos vivendo, onde a esperança, o amor e a vida valem muito pouco, não há espaço para poesia.
Infelizmente, a poesia de Castro Alves, um dos nossos maiores bardos, está restrita aos círculos acadêmicos ou através de citações em livros escolares. É pena. Porque se os nossos jovens conhecessem melhor a vida desse grande brasileiro, teriam maior orgulho do passado do seu país, onde pontificaram figuras como Castro Alves, que dedicaram suas vidas a defender os oprimidos.
Ainda bem que, quando do sesquicentenário do seu nascimento, foi criado o Projeto Castro Alves – 150 anos, que levou a lembrança do famoso poeta a diversas capitais brasileiras. Em Salvador, sua terra natal, foi realizada uma exposição com objetos e manuscritos que pertenceram ao poeta, além de 53 quadros de artistas que ilustraram suas obras. Essa mostra foi, depois, para Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.
Lançaram, também, um CD-Rom, Castro Alves – Poesia e biografia, com fotografias, ilustrações iconográficas, poesias e textos biográficos, além de uma cartilha, preparada para o público infanto-juvenil. E a turma da cultura garantia que não ficariam nisso as justas homenagens àquele que foi, senão o maior, um dos maiores poetas brasileiros.
Na mesma época o balé do Teatro Castro Alves, em Salvador, estreou uma coreografia especial do espanhol Victor Navarro, denominada Balé Sonhos de Castro Alves, com direção de Antônio Carlos Cardoso e música de Egberto Gismonti. Esse espetáculo foi levado a São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.
Essa programação deu ensejo àqueles que pouco ou nada conheciam da vida e obra de Castro Alves tomarem conhecimento do autor de O Navio Negreiro, um dos seus mais marcantes poemas.
Nascimento do poeta
Antônio de Castro Alves nasceu no dia 14 de março de 1847 na fazenda Cabaceiras, às margens do rio Paraguaçu (sete léguas distante de Curralinho, hoje Castro Alves), então freguesia de Muritiba, comarca de Cachoeira, na Bahia. Seu pai era o médico Antônio José Alves, e sua mãe, d. Clélia Brasília da Silva Castro, prendada dona-de-casa, filha do sargento-mor José Antônio da Silva Castro, um dos heróis da independência da Bahia. Além de médico, o pai de Castro Alves era professor da faculdade de medicina, sendo muito querido não só pela sua clientela, como por seus alunos. Ele prestou inestimáveis serviços ao povo baiano, principalmente no combate ao cólera, enfermidade endêmica naquele tempo. Por isso, o governo imperial agraciou-o com a Ordem da Rosa, uma das mais importantes comendas da Corte.
Antônio José Alves também era um amante das artes, tendo em casa uma valiosa coleção de quadros de pintores famosos, não só nacionais, como estrangeiros. Essa paixão levou-o a fundar, em 1856, a Sociedade das Belas-Artes. Em sua residência ele procurava dar aos filhos uma educação artística, terminando por fazê-los inclinados ao desenho, à pintura, à música, ao canto e às letras.
Em 1858, o dr. Antônio José Alves reconstruiu o solar da chácara Boa Vista. Ele pretendia com isso que sua esposa, Clélia, enfermiça e mãe de seis filhos, ali pudesse recuperar a saúde. Infelizmente, ela faleceu em 1859. Sem ânimo para criar sozinho a família, o dr. Alves casou-se com a viúva Maria Ramos Guimarães, que criou com o maior desvelo quatro crianças menores, um rapaz e três meninas, Guilherme, Elisa, Adelaide e Amélia. No dia seguinte ao casamento do pai, os dois filhos mais velhos viajaram para o Recife, onde foram preparar-se para ingressar na faculdade de direito. Um deles era Castro Alves.
O grande amor
E é no meio de toda essa agitação política, que Castro Alves vem a conhecer a atriz portuguesa Eugênia Câmara, estrela da Companhia Dramática de Coimbra, por quem se apaixona perdidamente. Graças a ela volta-se para o teatro e decide escrever um drama. O que acontece, tempos depois, quando ele e Eugênia vão para uma casa de campo e Castro Alves escreve O Gonzaga. Neste drama, os três primeiros atos passam-se em Minas Gerais, e o último no Rio de Janeiro.
A peça, depois de grande sucesso em Salvador, é levada à cena no Rio de Janeiro e São Paulo, onde também é aclamada. A estreia foi em setembro de 1867, no Conservatório Dramático da Bahia, na capital baiana, e ao final do espetáculo, o poeta foi carregado nos braços da platéia. Enquanto muitos cumprimentavam Eugênia Câmara pela sua magnífica representação.
O amor de Castro Alves pela atriz cresce a cada dia. E para ela o poeta produz lindas poesias. Como em À atriz Eugênia Câmara (no dia seguinte ao de uma vaia sofrida no Teatro Santa Isabel, no Recife):
“Hoje estamos a adorar-te / Tu és a nossa glória, a nossa fé, / Gravitar para ti é levantar-se, / Cair-te às plantas é ficar de pé !...”
Ou em “Penso em ti” :
“Eu penso em ti nas horas de tristeza / Quando rola a esperança emurchecida / Nas horas de saudade e morbideza / Ai ! Só tu és minha ilusão querida / Eu penso em ti nas horas de tristeza”.
Um desastre !
Castro Alves era muito ciumento e não raramente atritava-se com Eugênia. Quando a peça O Gonzaga terminou sua temporada paulista, a atriz resolveu abandoná-lo, deixando-o desesperado. Para maior desgraça, no dia 1º de novembro de 1868, Castro Alves sofre um sério acidente. Armado, ele caçava por distração. Ao saltar uma vala, tropeça e a espingarda dispara um tiro, que acerta o seu calcanhar esquerdo. Sente muitas dores e o pé, infeccionado, deve ser amputado. A operação no entanto, tem que ser realizada no Rio de Janeiro, pois o clima úmido de São Paulo agravaria o mal dos pulmões.
Viaja para o Rio em maio de 1869, ficando hospedado na casa do amigo Cornélio dos Santos. Devido ao seu estado de fraqueza, a amputação tem que ser realizada a frio, sem o uso do clorofórmio. Castro Alves enfrenta tudo e ainda goza a operação: “Corte-o, corte-o, doutor...Ficarei com menos matéria do que o resto da humanidade”. Mas, abalado, ele escreve: “Tenho por c’roa a palidez da morte / Fez-se um cadáver – o poeta ardente”.
Alguns meses depois, com muita força de vontade, Castro Alves tenta superar a desgraça e passa a caminhar apoiado em muletas. Depois, para disfarçar o defeito, enfia a perna esquerda num botim recheado de algodão, e vai assistir um espetáculo de Eugênia Câmara no Teatro Fénix Dramática. Trocam apenas algumas palavras, mas estas dão ensejo para que ele escreva:
“Quis te odiar, não pude. – Quis na terra encontrar outro amor. – Foi-me impossível. Então bem disse a Deus que no meu peito pôs o germe cruel de um mal terrível. Sinto que vou morrer ! Posso, portanto, a verdade dizer-te santa e nua: não quero mais o teu amor ! Porém minh’alma aqui, além, mais longe, é sempre tua”.
A tuberculose, porém, não o abandona. A família insiste para que ele volte a Salvador, o que faz em novembro de 1869. À conselho médico vai para a Fazenda Santa Izabel, em Rosário do Orobó, a alguns quilômetros de Itaberaba, onde conclui o livro Cachoeira de Paulo Afonso. Este é um dos trechos do belo poema O São Francisco:
“Longe, bem longe, dos cantões bravios ,/ Abrindo em alas os barrancos fundos; / Dourando o colo aos perenais estios, / Que o sol atira nos modernos mundos; / Por entre a grita dos ferais gentios, / Que acampam sob os palmeirais profundos; / Do São Francisco a soberana vaga / Léguas e léguas triunfante alaga !”.
De volta à capital baiana, em setembro de 1870, Castro Alves lança Espumas Flutuantes. Ao término do prólogo da obra, ele escreve: “Mas, como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima saudosa do marujo...possam eles, ó meus amigos ! – efêmeros filhos de minh’alma – levar uma lembrança de mim às vossas plagas!”
Nova paixão, desta vez não correspondida, pela cantora italiana Agnèse Trinci Mucci. Tenta conquistá-la através de belas poesias, mas nada consegue. Na tarde do dia 6 de julho de 1871, aquele que ficou conhecido como o poeta dos escravos, falecia no Palacete do Sodré, 34, cercado pelo carinho dos familiares e amigos. Dá o último suspiro junto a uma janela banhada pelo sol, para onde fora levado a seu pedido. “É meu último desejo”, dissera.
Tinha, então, 24 anos de idade.
No dia seguinte, Salvador chorosa presta-lhe uma grande homenagem, acompanhando-o à última morada, no Cemitério do Campo Santo.
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