Bach e o Jazz
"É possível perceber como 25 anos na vida de uma pessoa podem transformá-la"
Na vasta obra musical de Johann Sebastian Bach encontram-se as Variações Goldberg, uma pequena coleção de músicas que até bem pouco tempo era considerada uma obra de pouca importância, um mero exercício para piano, feito sob encomenda de um nobre qualquer.
Até que, em 1955, um jovem pianista surpreendeu o mundo com uma brilhante gravação das Variações. Seu nome: Glenn Gould. A gravação de Gould foi sucesso instantâneo entre crítica e público – ainda mais levando-se em conta o fato de que os discos de J. S. Bach nunca tinham obtido sucesso de vendas até então.
A leitura de Glenn Gould das Variações Goldberg é rápida, cheia de energia, jazzística (por que não?) e, ao mesmo tempo, doce, sofisticada e de fácil digestão para o público não usual da música clássica. Até hoje é considerado um dos discos de piano mais influentes do século XX.
Em 1981 Glenn Gould regravou as Variações Goldberg. Lançada pouco tempo antes da sua morte, a segunda leitura de Gould surpreendeu o mundo novamente ao mostrar as Variações de maneira muito diversa da primeira. É notavelmente mais lenta – a primeira versão tem 38 minutos; enquanto a segunda estende-se por 51 minutos. As mesmas músicas se apresentam no segundo disco mais serenas, não urgentes e menos agressivas. Comparando uma versão com a outra é possível perceber como 25 anos na vida de uma pessoa podem transformá-la.
Não cabe dizer qual das duas leituras é melhor. Depende do estado de espírito do ouvinte. A quem interessar, foi lançado há pouco tempo em CD uma primorosa edição contendo os dois álbuns, além de um disco bônus, com entrevistas de Gould e sobras de estúdio. Acompanha também um encarte bacana, com fotos do pianista e uma pequena biografia (em inglês). A compilação chama-se Glenn Gould: A State of Wonder - The Complete Goldberg Variations 1955 & 1981. Para estudantes de música – principalmente de piano – é um excelente material de pesquisa e inspiração. Para os leigos em geral continua sendo uma obra de arte cativante.
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