Palavreando - 30 de janeiro.

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Bem simples

A vida simples é boa, diz a música. A vida simples é boa, me garante o ditado. A vida simples é boa, digo para mim mesmo. E só damos valor às coisas quando de algum modo corremos algum risco em perdê-las ou quando as perdemos definitivamente. Somos tolos por isso? Talvez sim, talvez não. Somos estúpidos por isso? Talvez apenas pouco evoluídos. O melhor antídoto para a estupidez é reconhecer, mas sem repetir os erros novamente, pois o mundo dá voltas e as chances de acertar reaparecem sempre, ainda que nada seja como antes.

O ontem já foi, o hoje está sendo e o amanhã é futurista demais para acontecer agora. Pode soar como livro de autoajuda, mas que bom que há aqueles que ainda procuram ajuda seja num livro, num filme, num rosto... As coisas passam por nós e elas passam do nosso lado, acenam na nossa frente e por vezes até fazem carnaval, firulas e piruetas para chamar a atenção, doidas para se jogarem no nosso colo, mas somos tão desatentos.

Se prestássemos mais atenção a nossa volta, se ficássemos mais ligados... Mas não... Em busca de um pouco mais, deixamos tudo, em busca do desconhecido, descartamos o que se conhece para se aventurar. A aventura faz parte da vida e isso é maravilhoso, mas não dá para passar a vida inteira construindo histórias para si só. Por mais egoístas que sejamos não dá para ser feliz sozinho, não há como deixar legados sem que se conquistem pessoas. Serão elas as plataformas que nos lançarão ao céu, são as pessoas que testemunharão e perpetuarão aquilo que somos e fazemos. E não se trata dos prédios que se construiu, impérios que se destruiu, jantares que se pagou, doações que se fez. Trata-se de castelos erguidos na areia da praia, mentiras desmentidas, conversas em volta da mesa, o tempo que se deu e se trocou. Troca. Sim, olhares trocados, palavras trocadas, mãos tocadas, abraços doados, jeitos imitados, sorrisos conquistados e também lágrimas. Essa troca é que faz a vida ser excitante. Percebe? Trocas simples fazem a vida ser boa.

A vida simples é boa, o que não impede ninguém de complicar. Complique se quiser, mas não deixe de fazer estas coisas simples ainda que de um jeito mais complexo, mas faça! Não derramando o que não fez ontem, nem planejando o que fará amanhã. Às vezes, por mais que as chances reapareçam às vezes ou muitas das vezes só se tem uma chance, só se tem uma vez.

Eu não sei onde quero chegar, mas estou indo. O que quero dizer é que temos que celebrar o que temos. Nossas mãos que podem fazer coisas fabulosas, nossas pernas que podem nos levar para onde quisermos, nossa boca que pode nos levar até Roma, nossos sonhos que tudo transformam e nos motivam a acreditar além das promessas, mais adiante dos milagres, num lugar em que não importa se não temos braços, pernas ou boca, pois é onde só é preciso voar... Ao lado dos seus, ao encontro dos seus... Mas até chegar lá é preciso andar, sem precisar voar, fazer coisas fabulosas sem necessariamente alçar vôo e convidar todos esses para seguirem adiante com você. Com uns terá mais trabalho, outros talvez até te convidem, mas se esforce para manter os poucos e bons com você até o fim, até o voo.

A vida simples é boa ainda que o mundo não pare para intervalos de complexidades. De uma maneira ou de outra, todos poderão chegar, alguns mais cedo, outros mais tarde. Alguns rodando o mundo, outros sem sequer mudar de cidade. Mas é preciso se perguntar para se entender, ainda que viver seja mais importante que se auto-explicar. Correr riscos faz parte, mas não deixe de perder aquilo que lhe parece bobo, mas essencial, por todas as outras coisas mágicas que somem na primeira curva. Não hesite em trocar minutos na Disneylândia por minutos a mais com os que você verdadeiramente ama. No fim das contas, ao fim de tudo, cada instante fará imensa diferença.

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