Multitude - 12 de dezembro

Por: João Clemente Moura
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

A Genealogia do Emo

“no século XXI o emo se tornou algo como um movimento social adolescente”

Diz a lenda que em meados dos anos oitenta, alguém da plateia gritou para o vocalista da banda Husker Du: “Você é emo!”. Verdade ou não, o emo passou mais de uma década sendo apenas um adjetivo, ou seja, quando se ouvia uma canção punk cantada com emoção, seja qual fosse o assunto da letra, dizia-se que ela era emo, que era algo emocionante. Era um elogio, mas no fundo não era lá grande coisa, era como dizer “o céu bonito”.

Quem como eu acompanhou essa história ficou impressionado de ver como no século XXI o emo se tornou algo como um movimento social adolescente, e que pouco tem a ver como o seu contexto original, e que ganhou uma dimensão tamanha a ponto de Jorge Ben(jor), nosso cronista do cotidiano, compor uma música só para ele.

Mas como foi de uma coisa para outra? As bandas que hoje são consideradas emo falam basicamente de desilusão amorosa. Ou seja, o emo se associou não mais às emoções, à expressão, mas sim a um sentimentalismo que não difere muito do resto da música romântica brasileira, a não ser pelo fato de ser rock. O punk rock, que nasceu como um grito das classes pobres dos países desenvolvidos no fim dos anos 70, foi processado pela mídia e transformado em produto para um nicho de adolescentes de classe média que não tem muito o que reclamar a não ser seu amor perdido e a incompreensão do mundo sobre a sua pessoa.

Mas vamos lá, não quero ser tão cruel com esses meninos, já que o emo é indiscutivelmente o movimento mais ridicularizado na história da cultura popular, muito talvez porque exista pouca identidade no emo a não ser uma padronização estética das roupas, acessórios e cortes de cabelo. É um alternativo padrão, que nem é tão original assim: é uma mistura da estética dos antigos punks, góticos e clubbers. Além disso, os emos também são criticados pela sua atitude, por “ficar chorando por aí” como uma criança mimada, sem vontade de lutar pela vida.

Desde que a cultura jovem foi inventada no pós-guerra, todas as gerações flertaram com algum movimento social, como o beatnik, o hippie, o punk... Existe uma tendência universal entre os jovens no sentido de querer fazer parte de alguma coisa. E esses movimentos jovens foram o que melhor representaram o espírito do tempo de cada geração.

Logo, talvez a verdade seja a seguinte: o emo se tornou o bode expiatório natural de uma sociedade deprimida, que perdeu referências, que não sabe mais pelo que lutar. Tranferimos a eles todas as nossas inseguranças, ridicularizamo-os, ridicularizamos esse lado nosso que a gente finge não existir. Será que expor assim a depressão de nossa sociedade, como fazem os emos, é uma forma de resistência? Temos que pensar muito sobre isso.

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