Multitude - 31 de outubro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Papel é história

Ter o Kindle nas mãos é como ter uma biblioteca municipal inteira nas mãos.

Chegou no Brasil o Kindle, o leitor eletrônico da Amazon.com. O aparelinho, que é bastante leve e fino, vem sendo anunciado pela mídia afora como a nova revolução na leitura, assim como foi a invenção da imprensa por Gutemberg séculos atrás.

A leitura eletrônica nunca havia vingado até então porque a tela do computador é luminosa, cansando assim a vista. Já a tela do Kindle, por sua vez, é agradável aos olhos por ser totalmente opaca, não emitindo qualquer luz assim como o papel. Sua capacidade de armazenamento é de 1500 publicações na versão pequena e 3500 na versão grande; pesa menos de 300 gramas e os títulos podem ser baixados diretamente do aparelho, em qualquer lugar, através de convênios entre a Amazon e as operadoras de celular. Ter o Kindle nas mãos é como ter uma biblioteca municipal inteira nas mãos. Vale lembrar que os clássicos da literatura, de domínio público, serão praticamente gratuitos. A Amazon cobra, por exemplo, somente U$1,00 pela obra completa de Jane Austin.

Você consegue imaginar? Pode-se levar consigo, sem pesar quase nada, todos os livros de Dostoiévski, Freud, Nietzsche, Agatha Christie, a Bílbia, além dos tijolões de medicina e direito, livros de culinária, dicionários, revistas, o jornal do dia e um tratado de Copérnico. Os estudantes agradecem. Os cidadãos que moram longe de bancas de jornal e livrarias agradecem. As árvores também agradecem.

Esse é mais um capítulo da digitalização do mundo, assim como aconteceu com os discos, os filmes e as fotos. Da forma física da obra de arte se extraiu a sua alma, a sua essência, o espírito da coisa. No caso dos livros, jornais e revistas: as palavras. É claro que a alma é um tanto fria, não tem sangue rolando, de maneira que o impacto da palavra no papel será sempre maior do que a versão virtual. Mas se o importante mesmo é o conteúdo, é essa a revolução que o Kindle (e outros aparelhinhos que certamente virão na sua cola) promete, a da disponibilidade universal do conteúdo, como uma Biblioteca de Alexandria portátil.

O livro em sua forma física não vai acabar, como afirmam alguns, enquanto existirem pessoas que gostam deles, mas certamente serão impressas muito menos coisas. Para estar no papel, agora tem que valer a pena.

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