Multitude - 24 de outubro

Por João Clemente Moura
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Nova Friburgo e o capitalismo pós-industrial

“Todos nós produzimos coisas imateriais usando nosso cérebro, mesmo que seja só sonho, de forma que agora todos nós somos a classe trabalhadora, até mesmo os mendigos”

Muitos consideram a empreitada alemã da primeira metade do século XX a fase mais gloriosa da história do nosso município. Um passado próspero, que não vingou pelas contingências históricas, ficando para nós o lamento, a nostalgia. Será que a redenção friburguense virá de uma nova fase industrial? Será esta a única maneira de fazer a nossa economia voltar a se desenvolver?

A visão de que só a indústria traz desenvolvimento é restrita e ultrapassada, pois ignora importantes transformações no capitalismo atual; ignora o surgimento de forças produtivas que começam a se solidificar agora, no século XXI, e em franca expansão. Trata-se do trabalho imaterial: todas as formas de trabalho que lidam com a comunicação, com a informação, o conhecimento, o afeto e a cooperação (trabalho em equipe). O trabalho imaterial está aí em toda parte, desde a utilização de um software até o atendimento na loja. Até mesmo nas próprias fábricas.

    No século XIX Karl Marx falava sobre a hegemonia do trabalho industrial, ou seja, sobre as máquinas mecânicas-energéticas que passaram a influenciar todas as formas de trabalho, até mesmo a agricultura. Nessa época o operário urbano tornou-se a vanguarda da classe trabalhadora pela sua capacidade de comunicação e organização, graças à natureza conglomerante das fábricas e metrópoles.

Ora, as máquinas correspondentes ao trabalho imaterial são, por sua vez, informáticas-comunicacionais. São elas que hoje exercem influência sobre as mais variadas formas de trabalho existentes, seja no setor de serviços, na indústria e na agricultura. Aliás, todos nós produzimos coisas imateriais usando nosso cérebro, mesmo que seja só sonho, de forma que agora todos nós somos a classe trabalhadora, até mesmo os mendigos. O trabalho imaterial engloba todos os aspectos da vida, logo, a luta política contemporânea é pela vida como um todo.

Mas, eu gostaria de mostrar as vantagens que Nova Friburgo terá se entrar de vez na terceira transição capitalista. A produção de bens materiais é finita, esbarra na saturação do mercado. Se o mundo passar a produzir mais sabonete, não significa a princípio que as pessoas comprarão mais sabonetes.

Com o trabalho imaterial a lógica é outra, pois o cérebro pode sempre aprimorar funções ou desempenhar funções mais refinadas, agregando-se cada vez mais valor ao produto (imaterial ou material) ou ao serviço, valendo-se de pesquisa, design, logística de distribuição, propaganda etc. E o mais importante: trabalho em conjunto, em cooperação. Duas cabeças pensam muito melhor do que uma. Capitalismo em rede. 

Infelizmente, é nesse ponto específico, o que concerne à formação de redes, que Nova Friburgo sai perdendo feio. Tratando-se de negócios ou não, é muito difícil agregar pessoas por aqui em prol de qualquer objetivo comum. Todas parecem desconfiadas uma da outra e desconfiadas do próprio taco. Pode-se culpar indefinidamente a falta de instrução do povo (que é de fato um caso grave), mas talvez o verdadeiro entrave para o desenvolvimento de Nova Friburgo seja mesmo a maneira tacanha como os friburguenses se relacionam entre si. É necessária uma transformação radical na nossa cultura.

P.S.: Não posso encerrar este ensaio sem falar aqui da causa ecológica. O trabalho imaterial faz a economia crescer, causando poucos impactos no meio ambiente, já que não está vinculado essencialmente à produção de bens físicos. É a saída para uma cidade que quer ser verde.

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