Matéria - 26 de setembro

sexta-feira, 25 de setembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Assalto ao trem pagador

Mario de Moraes

Há 46 anos, no dia 8 de agosto de, 1963, no condado de Buckinghamshire, Inglaterra, aconteceu um dos mais espetaculares roubos da história da criminalidade. Os audazes ladrões conseguiram levar 2 631 784 libras esterlinas em notas miúdas. Mais ou menos cerca de 220 milhões de reais.

Depois de cansativas investigações, a polícia inglesa descobriu que os culpados faziam parte de duas gangues inglesas, sediadas em Londres, a South East e a South West (Sudoeste e Sudeste, em português), que haviam se associado para cometer o crime. As autoridades policiais revelaram que entre os ladrões havia um antiquário, um famoso cabeleireiro londrino, um editor e o dono de uma boate e ex-lutador de boxe. E de todos o mais conhecido pelos brasileiros: o carpinteiro Ronald Biggs, que ficou internacionalmente famoso depois que se refugiou no Brasil.

Tudo começou quando um grupo de ladrões soube que um trem do Correio recolhia depósitos de bancos da Escócia e os levava para Londres. Tudo foi muito bem planejado, inclusive o horário do trem, bem como a melhor data para ele ser assaltado. Esta seria um dia após um feriado bancário, porque o comboio estaria levando depósitos de dois dias

O trajeto do trem fazia-o passar pela região de Sears Crossing, onde havia uma sinaleira, que acendia uma lanterna de cor âmbar. Quando isso acontecia, o trem teria que parar um quilômetro adiante. Sabedores disso, os ladrões simularam a luz da lanterna obrigando o maquinista Jack Mills a parar o trem. Depois deram-lhe uma paulada na cabeça, que o fez sangrar bastante. Eram três e meia da manhã. À seguir os assaltantes tomaram conta do comboio, obrigando o maquinista a levá-los até a próxima estação, onde descarregaram os 120 sacos de dinheiro que o trem levava. Logo depois fugiram para uma fazenda a 40 quilômetros do local do assalto.

Os assaltantes fugiram para um esconderijo previamente escolhido, mas a pressão da polícia terminou por fazê-los abandoná-lo, encarregando um cúmplice de limpar seus rastros. Este, porém, os traiu, ficando com metade da quantia roubada, dando no pé em seguida. A ScotlandYard, famosa polícia inglesa, nunca o localizou, embora ele tivesse deixado impressões digitais por toda a casa.

As impressões digitais dos outros membros da quadrilha, no entanto, facilitaram a ação da polícia, que conseguiu, em menos de um mês, prender a maior parte dos ladrões. Em 8 de julho de 1965 depois de passar quase dois anos atrás das grades, Ronald Biggs, um dos assaltantes, corrompendo alguns funcionários do presídio, conseguiu fugir. Por três anos refugiou-se na Austrália. Depois foi para o Panamá e, em 1970 voou para o Rio de Janeiro.

“Meu pai estava falido, pois o que tinha gastara fugindo pelo mundo” declarou na ocasião Michael Biggs, o Mike, filho de Biggs com a dançarina brasileira Raimunda de Castro, que durante algum tempo fez parte do conjunto musical juvenil Balão Mágico. Graças a sua existência, Biggs livrou-se, naquela ocasião das garras da polícia britânica, uma vez que, por nossas leis, nenhum estrangeiro pode ser extraditado se tiver um filho com uma mulher brasileira.

Em maio de 2001, muito enfermo e após viver por mais de 30 anos no Brasil, Ronald Biggs decidiu entregar-se às autoridades britânicas, sendo encarcerado na prisão de Belmarsh, de segurança máxima, em Londres, onde está cumprindo a sua pena, que foi de 55 anos de prisão.

“Na Inglaterra o crime não prescreve”, declarou Mike Biggs. E acrescentou: “Desde que meu pai se entregou, teve o terceiro derrame, não fala mais e tem muita dificuldade para andar. Estamos recorrendo nos tribunais europeus de direitos humanos pois, da forma como ele está sendo tratado, ele é um prisioneiro político...”

Na verdade é um ladrão que participou de um roubo de cerca de 220 milhões de reais.

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