O mesmo sujeito que, não tem muito tempo, louvou o catalepetear das máquinas de escrever, agora, em curta, mas decisiva, viagem de ônibus, ousa incensar o pequeno notebook empoeirado que traz consigo. Esta maquininha de pouco mais de um quilo é capaz de adiantar-me em léguas o universo – falo aqui, como em todas as minhas notas, com o comprometimento de quem escreve como única forma de se lidar com o mundo e suas pendengas.
Se me foge, é criação, é por pouco tempo. Longe dos pesos dos últimos tempos, metido num silêncio só meu (desses que se assemelham ao calor uterino), retomo jornadas, transformo, redijo planos, envio e-mails, faço ligações importantes (adiadas pelos anos, finalmente as vozes voltam a se encontrar – nada surpreendente, como sempre).
Após algumas loucuras (das quais, algumas foram descartadas, outras permenecerão e mais ainda serão transformadas), retomo o dia a dia e seu peso, esboço um sorriso, engano a todos e, secretamente, construo a minha bomba.
Poderia se dizer que tenho muita sorte. Porque as coisas estão bem – claro, claro, meus caros amigos, as coisas poderiam estar melhores, mas elas não estão ruins como se pode pensar.
Um amigo meu teve um treco dia desses. Caronte quase lhe cobrou a fatídica taxa. Mas o puto sobreviveu. Botelhão, meu camarada, cuspiu no chão, fez um risco e, com o dedo em riste, disse pra morte: - Daqui você não passa.
E não passou mesmo.
N’outro desassossego, minhas histórias retornam pro seu lar.
Um adeus provisório à prosa como meio de vida, retomo os quadrinhos como meio de expressão. Alhures a serem vislumbrados, talvez não pelos leitores deste espaço, mas amigos, queridos e distantes, amantes, amadas, para esses as imagens e as palavras se casam, se conduzem, se descobrem, se acertam como a vida que, todos os dias, insiste em brotar através das pálpebras.
Eu volto com o Era uma vez do Diabo. Este mesmo que, sacana, nos aguarda no meio da rua, no meio do redemunho. Vem, vem cá dar um abraço.
Eu voltei pra casa.
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