Trago-te notícias desta tarde - 25 de julho

Por Diego Vieira
sexta-feira, 24 de julho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Não se enganem com estas palavras, a vida é justa.

Creio que esta seja uma história sobre um homem que resolve pregar uma bela duma peça em todo mundo.

- E o que ele faz?

Morre.

Deixe-me falar sobre isso. Vamos ali, sentar e tomar um trago – você quer uma história, eu quero um trago. Então, faça-me o favor de me deixar contar esse conto em troca de um agrado, já que tanto quer ouvir o que tenho pra falar, esse causo que pode até não ser justo, mas ao menos é de uma honestidade que pode lhe interessar, de forma que também tem o risco d´eu não ser bom contador, mas garanto de te entreter por um tempim – o tanto assim qu´eu ainda possuo de juízo será empregado nesse ofício de te contar essa história, enquanto – peço dois copos ou o senhor prefere me ver beber só? imagine só, não é desfeita. Dê cá, quero uma cachaça, sim? grato, e; será que posso, he, posso?

- Claro.

- Não deixe que eu me perca – falo mais sobre as sensações que a culpa costuma nos dar do que sobre o ponto a que devo chegar e é dessa forma que te encarno assim, com essa tomada própria, roubada daqui e dali, mas com a propriedade de garantir-se à casca da defesa – quando em que a minha história começa (e esta, prometo que será a última das datas precisas, mas é que esta – a história que segue – é uma história dessas história em que o tempo nada que é relevante, nem preciso, nem necessário, é o espaço (livre das caretices, por favor!) o lugar importante, é onde se vive, o espaço), de forma que em algum dia de janeiro de 93 ou 94 (nem tão precisa, afinal), a tia desse rapaz que falamos, Zacarias, levou o guri, seis ou sete anos apenas, junto ao filho mais novo, ao velório de um bebê recém-nascido.

Veja só, esta é uma memória da qual nosso amigo não tem muita certeza, mas como ela é danada de boa, abro registro: a tia pegou a mão dos moleque e fez pousar na do nenê falecido – isto é verdade, ele tem certeza e ainda ri, porque imagina que imagem ridícula devia de ser aquele menino, parado ali, mão sobre uma das mãos, os pais, sabe deus se chorando ou abençoando aquele falecimento, uma boca a menos pra alimentar, o guri guardando o orgulho pra se arvorar entre os seus depois, os moleques perversos que costumamos encontrar na segunda série.

A imagem aqui, não pode deixar que eu me perca, será o seu risco, não meu, eu já aprendi a lidar com esse tormento – por isso te conto essa história, este meu desatino, esta história que nem é só minha, que é dividida, absorvida e benfazejamente distribuída, segundo dizes, mas eu não sei, eu só conheci esse rapaz que a tia pegou pela mão numa tarde e levou, junto ao primo, até o velório de um bebê, e, enquanto fazia ele tocar aquela mãozinha morta que mal tivera tempo de sacar que tava vivo, já fora sacaneado pela existência, morreu e no seu velório ainda teve que aturar molequinho tocando sua mão morta, enquanto a tia, afinal, sussurrava-lhe no ouvido: - A vida é esta merda.

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