Um talento de pedreiro!

Autodidata, Seu Minas fez da arte de esculpir madeiras muito mais que um simples hobby
sexta-feira, 17 de julho de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Um talento de pedreiro!
Um talento de pedreiro!

Texto e fotos: Henrique Amorim

Um ato de rebeldia na adolescência fez José Hermínio dos Santos Reis, o Minas, hoje com 65 anos, descobrir, por acaso, seu dom nato para as artes. Uma fuga aos 13 anos de idade de Nova Friburgo para Niterói o fez parar na praia de Icaraí. Sem atividade, o menino até então sem destino encontrou na areia um canivete e começou a cortar e a fazer desenhos aleatórios em pedaços de madeira descartados na praia ou trazidos pelas águas do mar. Demonstrava-se aí, sem o garoto perceber, seu talento para as artes que hoje impressionam pelo realismo das esculturas esculpidas em madeira, principalmente as obras com temas religiosos, como os quadros da Santa Ceia, avaliados modestamente pelo artista em R$ 600, e imagens de santos já comercializadas até no exterior.

“Antes, eu esculpia sem saber direito o que estava fazendo. Era uma atividade apenas para passar o tempo. Até que um dia passei em frente a uma loja que vendia obras em madeira, no bairro Jardim São João, e resolvi passar a vender meus trabalhos também”, diz Minas, que tornou-se pedreiro em Niterói e por lá viveu 23 anos.

Mas, por que o apelido Minas? O artista friburguense entrega que desde menino sempre teve vontade de conhecer as belezas naturais e históricas do estado de Minas Gerais, até que o destino deu uma forcinha e ele foi transferido do extinto Motel Clube Vila Rica, em Nova Friburgo, para uma filial da rede em Belo Horizonte/MG.

A empreitada não deu certo e Minas se tornou servidor da prefeitura da capital mineira por dois anos, fazendo jus ao apelido. De volta a Nova Friburgo, Minas não abandonou o ofício de pedreiro e passou a se dedicar também a biscates, a fim de reforçar o orçamento familiar. Mas o talento para as artes em madeira nunca foi deixado de lado. Na pequena garagem de sua casa, no bairro São Geraldo, Minas ocupa todas as suas horas vagas, à noite e nos fins de semana, para dedicar-se à arte em madeira. Ele não se cansa de sair pelas matas à caça de pedaços de madeira para caprichar em suas criações. As mais bem-vindas são a canela, o cedro e o cipreste vermelho.

Um trabalho de dedicação sem fim

As réplicas em madeira da santa ceia que encantam religiosos e os que apreciam a arte foram esculpidas por Minas em tábuas de cedro herdadas do Copacabana Palace, no Rio, que as descartou recentemente. “Meu sobrinho trabalha lá e quando percebeu que as madeiras seriam jogadas fora, ele as pegou para mim”, revela Minas, que se orgulha de já ter se debruçado por mais de 110 horas (com intervalos, é claro) na confecção de um dos quadros da Santa Ceia, talhada em madeira de cedro com total afinco. Desde a adolescência até hoje, Minas já contabiliza a confecção de mais de mil obras de arte, entre obras com temas religiosos e até brasões de família, a maioria já vendidos. Minas até já confeccionou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida para uma igreja em Nova Friburgo.

Autodidata, o artista garante que a inspiração surge naturalmente. “Nunca fiz curso e também não dou aulas. Tenho um dom de Deus que chama a atenção de muita gente. Costumo pegar um pedaço de madeira e vou talhando. As formas surgem naturalmente. Para fazer as imagens de santos só dou uma olhada numa delas ou numa foto para saber, por exemplo, que São Cristóvão carrega um menino no colo. Aí faço a escultura do santo com uma criança, mas sem tentar seguir formas muito definidas da imagem oficial. Do mesmo jeito esculpo a face de Cristo, uma das mais procuradas”, diz o artista, que chama a atenção pela simplicidade e pela magnitude de seu talento, já demonstrado em diversas exposições em Nova Friburgo, sempre encantando quem aprecia a boa arte.

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