Memórias de todo mundo
Jorginho Abicalil, para quem não sabe, é o mais criativo e profícuo criador de jingles do Brasil. Já produziu milhares, a maioria com sucesso, tanto para comerciais como para campanhas políticas. Há tempos, depois de assistir ao programa do Faustão, na TV Globo, dedicado ao Dia das Mães, ele escreveu uma crônica que foi publicada n'A Voz da Serra, jornal de Nova Friburgo, cidade onde nasceu.
Pedimos licença e a reproduzimos. Amigo é para essas coisas.
"Há momentos na televisão que nos fazem ser melhores do que somos. Momentos que dão um toque nos nossos sentimentos e nos fazem ser mais sensíveis. Estamos vivos, vivendo a vida como ela nos quer.
Domingo, no Dia das Mães, o Faustão fez uma homenagem a Ivete Sangalo. Algumas apelações plenamente aceitáveis porque, afinal de contas, a televisão vive dos pontinhos do Ibope. Em dado momento, o irmão de Ivete, Jesus, chorando compulsivamente, diz pra ela : "Eu quero minha casa de volta".
Ele falava da casa que vivia com seus irmãos e seus pais. E seguia o Jesus : "Eu quero falar mais de amor e menos de negócio".
O gordo Jesus foi o ponto alto do programa. Não é preciso fazer um discurso para emocionar. Apenas duas frases sinceras, saindo do fundo do coração, são mais importantes do que mil imagens e armações. Quem não tem saudade da casa em que viveu com pais e irmãos? Ali foram moldadas as emoções que o acompanharão pra todo o sempre. Um tempo em que ainda dava tempo para não ser mau nem rancoroso. Um tempo de beijos, abraços e cantorias, com uma mesa posta, pronta para quem chegar.
A vida vai nos conduzindo a fragmentos de saudade: a porta, a janela, as plantas, o São Jorge, a cadeira de balanço, o rádio na cabeceira, a cama e a janela aberta para a noite que ainda não era violenta. Estas imagens da televisão fazem com que a gente reflita com o coração gelado, as mãos trêmulas, a voz embargada, procurando um tempo que se foi e nos deixou com muitas saudades.
De tudo. Inclusive de como éramos naquele tempo. Somos tão diferentes.
A vida vai nos maltratando, deixando marcas indeléveis e o sentimento de Jesus exprime o que sentimos.
Eu quero a minha casa de volta. Com pai, mãe, irmãos, televisão enguiçada, pobrezas materiais e riquezas espirituais. Se querem me ajudar a ser feliz, pelo menos um pouco feliz, que falem de amor comigo e, por favor que falem menos de negócios. A vida precisa ser amaciada de vez em quando."
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Meu caro Jorginho Abicalil, sua crônica levou-me à minha casa em Vila Isabel, garoto e jovem feliz ao lado de minha família. E trouxe-me muitas saudades daqueles bons tempos. Porque, depois, nunca mais fui o mesmo...
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