Notas de um moleque desocupado - 16 de maio

Por Daniel Frazão
sexta-feira, 15 de maio de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Drogas entram e saem de moda como a coleção outono-inverno. A estação da maconha, a estação do LSD, a estação da cocaína, a estação do crack, a estação do ecstasy. Drogas para dormir, para acordar, para estar feliz, para alucinar, para matar e para morrer. O mercado e suas tendências, atendendo ao consumidor.

Crianças nos playgrounds das escolas aprendem desde cedo que coca-cola é o que há. Elas bebem e bebem e bebem e bebem. Com um copo de coca-cola na mão, elas assistem aos comerciais de bicicletas e action figures que fazem uma incisão certeira em seus pequenos e sedentos cérebros. A incisão atravessa o lóbulo frontal e cria o principal pilar da lógica de consumo: o desejo. Desejos criados semanalmente em cada sala de estar.

Enquanto isso, na sala de jantar...

Vovós de cabelos azulados acompanham programas de auditório e notícias sensacionalistas com vidros e mais vidros do mundo carrolliano da farmacologia. O mercado também tem produtos que atendem à terceira idade. E a quarta e a quinta. Drogas para dormir, drogas para acordar, drogas para estar feliz, para alucinar, para matar e para morrer. Naturalmente, para fazer as rodas farmacológicas girarem, é preciso que a safra de doenças esteja sempre atualizada. Safras de doenças que precisam estar de acordo com o segundo pilar da lógica de consumo: o medo.

Medo e desejo se confundem no ritmo desenfreado da modernidade.

O medo cria o desejo. E o desejo cria o medo. Você precisa ter para não sentir medo. Você sente medo de não ter.

Televisão. Ondas eletromagnéticas que varam o espaço, carregando tendências, vícios, desejos e temores. O traficante supremo. Incorpóreo, onipresente e sempre aguardado.

Imagens e tramas de tragédias e comédias que embalam o sono dos telespectadores com logotipos ao fundo. Logotipos, slogans, que passam despercebidos diante das imagens de beijos e mortes, mas que ficam gravados no subconsciente como uma tatuagem.

Lá está, o coração pulsante e sangrento de um admirável mundo novo; em vinte, trinta e quarenta polegadas.

E novos desejos e novos temores sobrepõem-se aos velhos desejos e aos velhos temores.

Agora a rua ganha novas cores, novas roupas, novos carros, novas palavras, novas posturas e novos desejos e novos temores. Desejos e temores que, obviamente, são supridos.

E tudo se movimenta, e nada para de girar. Uma substituição contínua de emoções em cada um.

Apenas uma dose diária. Se possível, duas doses diárias. E por que não três? Você precisa. Você quer.

O ópio é a religião do povo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade