Perdido nas estrelas
Ela ama as estrelas e eu venero tudo que ela adora. Exagerado, me jogo do céu, quem sabe ela não se confunde e acha que sou uma estrela que na opção de poder ficar para sempre suspenso, desce lá do céu só para ser apanhado por ela, adormecer no colo dela, rir ao lado dela, ser dela. Entregue, absolutamente entregue a ela.
Toda vez que ela espia a noite escura, brilho mais do que planetas distantes, tento chamar a atenção. Às vezes ela olha, outras me esnoba e tantas outras nem sabe que estou intenso pra ela. E minha maior dor é não poder descer no tobogã do destino para abraçá-la e dizer em poucas palavras o quanto ela é importante. Uma estrela linda perdida na selva das estrelas perdidas. E eu perdido nas estrelas caço a luz que me faz respirar.
Distante, tão distante o mundo faz parecer que os dias não passam ou quando passam são ligeiros demais. Tenho tanto pra viver, mas já tenho pelo que morrer. Eu perderia todas as pontas, eu cederia toda a minha luz, eu cairia tonto do céu por você. Talvez para pelo menos por uma só vez caminhar com você pela grama do lago, descansar sob as cerejeiras e fazer um piquenique só de piadas, de coisas engraçadas. Fazer cócegas no seu nariz e deslizar as mãos pelo seu suave rosto. Mas há uma distância entre nós e mesmo que a estrela seja cadente ainda não poderia viajar a velocidade da luz. Mas já fiz um pedido: ser uma estrela cadente e mesmo que isso signifique meu fim, me estraçalharia feliz por apenas ter me aproximado uma só vez de você.
Tento, exaustivamente, achar perdido nas estrelas uma solução para minha batalha contra o universo. Eu estrela, você terra quando eu queria ser apenas chão. Você estrela, eu ilusão quando eu queria apenas ser céu.
Eu amo as estrelas e ela adora astrologia. Encantadora, se reserva na ilha das estrelas nobres, para afastar aqueles que, mortais, têm o direito da morte, mas ela, imortal, não pode se apaixonar por eles, pois estaria condenada a ver os que amam esfacelarem. Ela sabe ler o futuro... Ela sabe o seu destino e também dos outros.
Apostando na crença de que nada é em vão, tento convencê-la de que o destino pode ser mudado e que o futuro não pode ser meramente estipulado. Assusto-a, afasto-a, perco-a. Não pode se fazer uma estrela perder a faísca que a acende e a ascende. Não se pode roubar as pontas de uma estrela, nem seu coração intrépido. Não se pode tentar enganar os astros, eles traçam o destino dos outros e apesar de não revelarem, também sabem de cor o seu futuro.
Contrariando a tudo isso, desafio o impossível e nos meus sonhos vejo-a mergulhar nesse novo universo... Ela me empresta suas mãos que acaricio e me impressiono ao perceber que elas se encaixam perfeitamente nas minhas. Faço-a sorrir e caminhando sobre um rio de estrelas olhamos para o céu e fazemos pedidos de sem-fim. Paramos na única árvore à beira-mar, contamos areia e viajamos até outros continentes. Falamos de tudo um pouco, admiramos um ao outro em meio à nossa guerra particular com as ondas. Dançamos sob a lua e cantamos a vida como se a vida se resumisse única e exclusivamente a nós dois. Mas estrelas não podem ficar muito tempo longe do céu e humanos não podem ficar muito tempo afastados da atmosfera. Mas ainda assim ficaria um só suspiro ao seu lado para descobrir a felicidade plena que te encontrar me garante.
Da varanda observo-a tentando entendê-la, mas quem disse que estrelas entendem de gente e gente entende de estrelas.
Perdido nas estrelas, aonde quer que eu vá, olho para as demais estrelas do imenso universo e choro luz ao perceber o quanto estão todas tão sozinhas, todos tão sozinhos. Acima do céu, sobre o céu, abaixo do céu... Todos tão sozinhos, eu sem ela, ela sem mim e nós dois perdidos nas estrelas.
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