Palavreando - 11 de abril

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 10 de abril de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Indignação é uma virtude

Quem perde a capacidade de se indignar perde também a ternura de olhar nos olhos do próximo. Indignação não é uma arma, mas uma virtude. Uma virtude em falta! É verdade, infelizmente: uma virtude esquecida ou taxada de grosseira. Mas indignar-se é uma das mais puras, no entanto escassas reações humanas. Num mundo cretino, pessimista, repleto de comodismo, faltam indignados, resta indignação. E triste, os tristes e aqueles que nem tristes são, pois nada mais sentem, clamam um novo mundo que rasga um grito por indignados. Por qualquer que seja a causa, por qualquer que seja o medo ou anseio a ser vencido. E não dá pra continuar do jeito que está. O mundo está doente, mas não precisa ser mudado, precisa ser transformado. A ternura tem que ser recuperada. A humanidade tem que voltar a ser humanidade. A indignação tem que ser resgatada.

Heróis do futuro sejam heróis do presente para que não se tornem mais uma vez os vilões do passado. As promessas não estão sendo cumpridas e não precisamos de novas promessas, necessitamos de ação imediata. Sejamos perseguidos, mas não percamos o dom da honestidade, mantenhamos na trincheira da verdade para que não nos afastemos de nossas maiores dádivas e responsabilidades: a honra, a justiça e a liberdade. Não estamos aqui, desbravando tais questões por nós, mas pelos outros. E por isso, não podemos desistir, não agora, nem por hora e nunca poderemos desistir da virtude de indignar-se.

Indignar-se com o pão que falta na mesa do irmão. Indignar-se com a corrupção que assola a população. Indignar-se com a vaidade do poder. Indignar-se com a proibição. Indignar-se com a unanimidade e o contraditório. Indignar-se com a ausência do Estado e também com a presença em demasia do Estado. Indignar-se com o cerceamento da expressão do pensamento. Indignar-se com tudo e com todos que vão contra a humanidade. Indignar-se, indignar-se, indignar-se...

Indignação é o que resta a nós que ainda acreditamos que o bem pode vencer o mal. Se perdermos isso, talvez perderemos de uma vez por todas as conquistas que vislumbramos ter. Honestidade é obrigação, competência tem que ser julgada, viver com qualidade é um direito de todos. Se isso é negado, que nos indignemos! Não clamo à revolução por revolução, mas à revolução para evoluir! Vejo o ostracismo, o comodismo e a posse indevida. Sinto a juventude velha e a esperança recolhida. Em verdade, não podemos ir contra o vento, mas podemos caminhar juntos para a mesma direção. Que façamos do vento o nosso aliado, que façamos desse tempo a nossa virada. Porque não dá pra esperar o sol da liberdade raiar. Esse sol que pintam é uma farsa. Precisamos tirar a poeira de nossos ideais e afastar a sombra que esconde nossos anseios. Temos que acreditar que somos capazes, independentemente daqueles que ultrajam o poder. Esses que vivem ufanando a renovação e a união dos contrários só desejam se manter onde estão. A força do destino está nas nossas mãos e no rastro de nossos passos. Sigamos para percebermos que o caminho está aberto, como sempre esteve, só é preciso um pouco de esforço conjunto para que trilhemos por essa estrada onde a indignação é a motivação para alcançar o propósito maior: resgatar o mundo. Só se indigna quem ama muito, só ama muito quem não perdeu a esperança de obter ternura ao olhar nos olhos do próximo.

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